quarta-feira, 1 de julho de 2015

DEUS NÃO PAGA IMPOSTO

João Eichbaum

Parece que os integrantes da Santíssima Trindade não falam a mesma linguagem, ou talvez nem sempre funcione entre eles a telepatia, assim no céu, como aqui na terra não funciona a Internet. Deus, também chamado Pai, por exemplo, não segue as regras de Jesus Cristo em matéria fiscal. Quando lhe passaram uma moeda e lhe perguntaram maliciosamente sobre sonegação ou – vá lá - sobre imunidade de tributos, o Cristo respondeu, sem pestanejar e sem morder a língua: “Dai a Cézar o que é de Cézar”.

Deus, o Pai, já não afina por esse diapasão. No preâmbulo da Constituição brasileira de 1988, ele figura como protetor dos constituintes e foi em troca dessa proteção, certamente, que as instituições religiosas deixaram de dar a Cézar o que é de Cézar: não precisam pagar impostos, têm ampla, geral e irrestrita imunidade.

De modo que, amparadas no art. 150, inc. VI, letra “a” da Constituição Federal e se atrelando também à extensão proporcionada pelo § 4º, do mesmo dispositivo, essas entidades se livram de um peso de que não escapam os que trabalham nesta república, os que ganham o pão com o suor do próprio rosto e têm que aguentar as filas do SUS.

Nem os pobrezinhos que tiverem tido a sorte de comprar terreno e construir em cima dele um barraco escapam de pagar imposto para ter um teto. Na hora de pagar o IPTU eles perdem a sensação de felicidade. Deus, ao contrário, mora sem pagar IPTU tanto em igrejas de pau a pique como em catedrais de luxo. E seus representantes pegam carona nessa regalia.

Não é preciso dizer que padres, pastores, bispos, arcebispos, cardeais e assemelhados não sabem o que é batente. Não sabem o que é o cotidiano dos pobres, o que é pular da cama de madrugada e ir para a parada do busão, ser nele apertado ou bolinado até o local de trabalho. Quer dizer, eles não sabem o que é construir um país, o que é contribuir para a elevação do PIB. Só sabem usar seu patrimônio para arrecadar dinheiro e apojar juros, construindo mais templos (leia-se fontes de arrecadação).

Quer cobrando dízimo, quer comercializando cada ato que exija a intervenção de Deus (batizado, casamento, enterro, missa) as religiões faturam o que muitas microempresas nem sonham. E isso, pela singela razão de que “Cézar” não dá moleza, não concede regalias para quem trabalha e constrói o país.

A boca dos hipócritas e dos que ignoram o texto constitucional se enche para propalar que o Brasil é um Estado “laico”. Na verdade, este país não passa de um lacaio de seitas e crendices. A receita, de que abre mão, poderia atenuar a amargura da pobreza, incrementar a educação, humanizar a saúde e proporcionar mais segurança aos cidadãos.  Mas, a Constituição de certo espera que, antes do Juízo Final, Deus se lembre de que existe o Brasil.




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