OS MISERÁVEIS
João Eichbaum
Deus nenhum entregaria oprimidos e inocentes à
própria sorte, permitindo, ao mesmo tempo, o exercício desenfreado da maldade
humana. Partindo desse princípio, quem conhece os homens, não acredita em
deuses. Como o número de ateus é insignificante no planeta terra, forçosa se
torna a conclusão de que a maioria absoluta da humanidade não conhece os homens.
A maioria não os conhece porque é formada por
ignorantes e tolos, gente que não enxerga um palmo diante do nariz e não
consegue desenvolver raciocínios primários. Estão mais próximos dos ancestrais
do que dos atuais primatas humanos.
Os outros crentes são: os ingênuos, que acreditam em
tudo; os pusilânimes, que não se livraram da lavagem cerebral recebida na
infância, e, pelo sim, pelo não, acreditam em Deus e no Diabo; ou os simplesmente
acomodados, tipo “assim ta bom, deixa como está”.
Quem conhece os homens e dispensa Deus (admitamos
esse nome de fantasia) atribui à animalidade incontida do ser humano o sofrimento
e o destino infeliz de inocentes criaturas que, fugindo da guerra, da fome, da
perseguição às suas crenças, em busca da vida, encontram a morte no caminho
dessa fuga, ou são rejeitados pelos poderosos, quando pedem asilo. Falo,
evidentemente, dos miseráveis fugitivos da Síria, que buscam refúgio, mas
morrem na praia, na Europa.
E quem acredita em “Deus”, que explicação nos dá?
Que esse Deus está ocupado com os jogadores de futebol, que lhe agradecem os
gols? Com os donos de Igrejas, que se dizem seus representantes, e levam uma
boa vida? Com aquele crente que foi curado de câncer? Com aquele outro que
conseguiu um emprego? Ou, simplesmente - para cair fora e não ter que dar
explicação - que a “vontade divina” é inescrutável?
Os ateus, em todo caso, não conseguem harmonizar
tanta maldade, consentida para muitos, e tanta bondade, distribuída para
poucos, com o conceito de um “Deus onipotente, bom, justo e misericordioso”.
Das duas, uma: ou a filosofia, ou a matemática estão erradas.
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