A REESTRUTURAÇÃO DO RACISMO
O vocábulo “raça” provém etimologicamente de “radix, cis”, termo usado por Plínio e Cícero, no sentido de “tronco, origem, descendência, sangue”. Com a mesma significação, essa palavra se incorporou ao léxico italiano com o nome de “razza”. Mas, assim como em português, a designação de natureza étnica em latim é representada por outros vocábulos: stirps, pis; genus, eris; progenies, iei; gens, tis; semen, inis; origo, inis; suboles, is; sanguis, inis. De modo que, quem domina o latim, jamais passará atestado de ignorância, afirmando que a raça humana é uma só, que cientificamente não se pode expressar a origem étnica através do vocábulo “raça”.
Em realidade, o correto, do ponto de vista científico, é afirmar que, como animais, os homens pertencem à espécie humana. O vocábulo “espécie” tem uma conotação mais genérica do que, propriamente, “raça”. Soa mal dizer que há várias espécies humanas. Há, sim, várias raças.
Assim como têm várias raças as espécies bovina, canina, suína, etc., a humana também as tem. São as características genéticas, que lhes definem a estirpe, separando os animais em raças. E a espécie humana não escapa dessa regra.
A natureza, movida a química, evidentemente produz reações químicas. Assim como não há uma flor igual à outra, não há um homem igual ao outro. De uma roseira não floresce, naturalmente, um cravo. Um lírio não pode gerar uma rosa. Existem mutações genéticas em decorrência da evolução. E hoje também as existem, produzidas pela tecnologia. Mas a regra fundamental das leis da natureza está presa às características genéticas.
Então, existem, sim, raças humanas. Daí, o racismo, expressão criada na França (racisme). Na língua portuguesa não existia essa palavra, conforme se constata no “Novo Diccionario da Lingua Portugueza”, editado em 1836.
Na verdade, outra coisa não é o chamado “racismo”, hoje, senão puro preconceito. Mas, no início, no Brasil, não era assim. Era um racismo organizado, oficializado, entranhado nas estruturas social e estatal: racismo estruturado, e não “estrutural”, como dizem os analfabetos funcionais.
Esse racismo, mesmo depois da abolição da escravatura permaneceu, porque não era fácil arrancar, de uma hora para outra, as raízes de uma ideia fincada no âmbito nacional. Mas, paulatinamente, foi sofrendo mudanças com o surgimento das novas gerações e se transformando em preconceito, já que, teoricamente, havia esmaecido a ideia de inferioridade étnica.
Os descendentes de africanos foram se inserindo na sociedade, sem o incômodo da discriminação, impondo-se por seus próprios valores. Nunca na história do país, por exemplo, houve um branco com veneração igual à de Pelé. E a miscigenação, além de quebrar a desigualdade, contribuiu para o aperfeiçoamento étnico.
Mas o Estado resolveu interferir, montando
oficialmente diferenças e reavivando as linhas divisórias de antigamente.
Estabeleceu prerrogativas que não só pressupõem inferioridade étnica, como
ainda atiçam a revolta dos injustiçados pelo tratamento desigual. E aos
desvarios do Estado juntou-se o desespero da grande mídia em estado
pré-falimentar, pois não é a normalidade, mas o conflito que vende notícia.
Esse contubérnio agora tem tudo para reestruturar o racismo.