quarta-feira, 30 de novembro de 2011

MANDARAM O PADRE SE ENFORCAR

João Eichbaum

O livro, que é um “confiteor” do padre José Joaquim Pillon, “SEM MEDO DA VERDADE”, tem dado o que falar. O artigo de Gaspar Miotto, elogiando a coragem do sacerdote, publicado no jornal A Razão, de Santa Maria, onde o padre Pillon é muito conhecido, gerou comentários, alguns ensandecidos, raivosos, coando uma fúria nada celestial. Eis um deles, na íntegra:

O Padre (?) em questão é um infiel ao ministério e portanto a Deus. Ele não tem o direito de enxovalhar a nossa Igreja, aquela única fundada por Jesus Cristo e que age pela força do Espirito Santo. Deveria ter saído antes de escandalizar. Ninguém é obrigado a ser padre e portanto de ser celibatário. N. Senhor disse: quem não deixar pai, mãe, mulher, filhos, irmãos … não é digno de mim. Também disse: Aquele que pegar no arado e olhar para trás, também não é digno de mim. Ora, se Jesus Cristo disse: O meu reino não é deste mundo, significa que as coisas do mundo não agradam a Deus. Entende-se o por quê do tal padre confessar seus pecados ao mundo e não um santo padre. A humanidade precisa de padres santos para levar almas a Deus e não de cafajestes, infiéis, safados. Judas também tinha sido escolhido por Jesus, mas O traiu e logo se enforcou. O tal José deveria fazer o mesmo. Adão e Eva, depois que pecaram, foram se esconder na floresta: Caim, após matar Abel, foi se esconder até ser chamado e sentenciado por Deus. O tal padre (?) josé também foi se esconder na floresta onde o diabo disse para ele que lá estava Deus …. Ele que aguarde também o seu julgamento e ao contrário do que diz, deveria, sim, ter medo. Com 83 anos, deve estar próximo. Diria ao grupinho dos padres que são contra o celibato que nosso Senhor disse: tome a tua cruz e siga-me e não tome a tua cama ou rede e deita. ” Se o teu olho te escandalizar, arranca-o, pois te é melhor entrar no céu com um só olho do que teres os dois e ires para o inferno “. Será que eles pensam que Jesus Cristo estava brincando de ensinar e contar hestorinhas? Infelizes deles! Já não rezam como Jesus; não fazem jejum como Cristo, não expulsam demônios como Cristo e sequer salvam almas como Cristo. Estão optando por viver na lama do mundo, embora chamados e escolhidos para o serviço do altar. Naquele dia lhes será dito: não vos conheço, afastai-vos de mim malditos, ide para o fogo eterno.

A devota senhora, ou senhorita, que assina o comentário como Maria Dolores, não deixa por menos e toma as dores da “Igreja”, a “nossa Igreja”, diz ela, acrescentando ter sido a “única fundada por Jesus Cristo e que age pela força do Espírito Santo”.
Ora Jesus Cristo não fundou coisa nenhuma. Pregador de praça pública, que vivia de favores, porque não trabalhava, Jesus Cristo não tinha cacife para fundar Igrejas. Quem fundou o cristianismo, transformado mais tarde, em Roma, na mais rica seita da face da terra, foi o espertalhão, que também não trabalhava, mas tinha papo de estelionatário, o Saulo, de Tarso, , mais conhecido como São Paulo.
Quanto ao “Espírito Santo”, inventado como inspiração e força do cristianismo, parece que, até aqui, não mostrou a que veio. A Igreja, a quem lhe incumbia “inspirar e guardar”, comanda na história escândalos inomináveis, que vão das orgias papais do tempo dos Borgia aos padres pedófilos, passando pela Inquisição, e muitas outras loucuras.
Fico apenas nas primeiras linhas do comentário da Maria Dolores para salientar a obsessão doentia de pessoas que não conseguiram se livrar da lavagem cerebral praticada pelo cristianismo e, em consequência disso, são levadas à cegueira, tornando-se incapazes de se dobrar à própria razão, porque continuam presas às tolices do Concílio de Trento, como inferno, confessionário, etc.
Mas, o que chama a atenção mesmo é a ausência da tese fundamental do cristianismo no comentário da leitora: o amor ao próximo. O adjetivo mais cristão que a Maria Dolores encontrou para pespegar no padre foi “infiel”. Dali para diante, por favor, saiam da frente do computador, crianças! Depois da sugestão para que o padre se enforcasse, até a idade dele – 83 anos – foi lembrada como alternativa para que o reverendo esteja próximo do “julgamento”.
E para Maria Dolores não resta dúvida: o padre já tem cadeira cativa reservada no “inferno”!






ichbaum

terça-feira, 29 de novembro de 2011

MEMÓRIAS DE UM PADRE (II)

João Eichbaum

Na sua autobiografia, o padre José Joaquim Pillon, embora relate as circunstâncias marcantes de sua vida, na qual muitas pessoas tomaram parte, só refere o nome de algumas delas. Não menciona, por exemplo, o nome do bispo que o ordenou, apesar de descrever a cerimônia de ordenação e a própria pessoa do bispo. De um superior provincial, por quem não demonstra muita simpatia, apenas refere um nome: Tronco.
Mas há dois nomes que ele não só menciona, como refere muitas vezes: o de sua paixão, Glorinha, e o da mãe dela, uma rica fazendeira chamada Dorinha.
O que é a paixão, né!
Nos capítulos em que descreve essa paixão, o padre se desdobra, faz poesia, se desnuda, como qualquer ser humano, exibe as fraquezas. E confessa que tinha trinta e cinco anos, quando se apaixonou por sua aluna de filosofia, a Glorinha, que só tinha vinte e seis
Olha, 35 anos, não é propriamente uma idade para se apaixonar. A gente se apaixona na adolescência, comete poesia, enche de penas o coração, ameaça cortar os pulsos, sofre delírios febris, etc. Aos 35, a gente se amarra numa paixão porque se entrega a uma crise, certamente em razão do fim de uma outra paixão, a paixão que veio no tempo certo e que nos levou para o cartório, para o altar, ou pura e simplesmente para a mesma cama, com direito a pendurar duas escovas de dentes no mesmo armário, e depois morreu.
Homem nenhum vive até os 35 anos sem alguma ou algumas paixões. É até muito mais fácil se apaixonar e se desapaixonar com freqüência. O único amor é o único até que surja outro. Ninguém é de ferro.
Mas, no caso do padre, como ele mesmo reconhece, o furor dessa paixão se deve às paixões reprimidas no tempo certo, que é a adolescência, durante a qual ele tinha seus instintos de reprodução desviados para “amor” da Virgem Maria, das santas, da Igreja, para o heroísmo clerical! E, como também confessa, a única vez que ouviu alguma coisa sobre sexualidade foi numa palestra proferida por uma – pasmem! – freira!
Bom, com essa virgindade, digamos assim, moral, o padre foi pego de surpresa pela inegável sedução da Glorinha que, alcovitada pela mãe, dona Dorinha, prometia todo o patrimônio da família, para o padre, em troca de sua virgindade masculina, como dever epitalâmico.
O romance parou por aí mesmo, porque, a seguir, diz o padre que foi para a Europa estudar e, enquanto descreve suas experiências na Europa, não menciona o nome de sua paixão, dando a impressão de havê-la esquecido ou sufocado.
Não sei até onde vai a sinceridade do padre, porque uma paixão, principalmente a primeira, a gente não esquece assim tão facilmente. E todo mundo sabe que só outra paixão é capaz de matar aquela que nos maltratava. Tudo leva a crer que o padre teve outra ou outras paixões, sonegando-as ao conhecimento dos leitores.
Mas é possível também que a paixão pela Glorinha tenha sido a primeira paixão correspondida. Aí já é outra história. A paixão correspondida é sempre bem condimentada. Não é uma coisa sem sal como o amor platônico, que se esvai aos poucos, se esfumaça, se perde na névoa de outros amores e passa a existir depois como uma vaga lembrança apenas.
Uma coisa, em todo o caso, é certa: o amor semeia tantos truques pela vida afora, que ninguém escapa dele. Nem que tenha que fugir para a Europa.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Quem diria que eu, como estudante pobre, morei numa pensão na rua dona Laura, quase esquina de Mariante, à esquerda de quem vai da Mariante para a Miguel Tostes, logo após a Mariante, tem hoje um edificio alteroso chamado - Cenrtro Profissional Mario Quintana". Aí naquele local tinha um enorme palacete, comum no bairro dos Moinhos de Vento, chácaras, onde morou a elite gaúcha. Ainda existem alguns. A familia já tinha saido do senhorial casarão com enorme quintal. Um homem de Alegrete, montou ótima pensão familiar, onde se alugava quartos para moças de fino trato. Sim. Moravam rapazes e moças, sem problema. Uns estudavam, outros trabalhavam. A comida era boa e a pensão era barata pois eu morei num quarto de tres, e assim o custo baixava bastante. Notável pensão. Inesquecível. Corria o ano de 1956, mais ou menos. Morava nos fundos, num quartinho, de favor, após a vasta cozinha onde, separada tinha a sala de refeição da pensão, o - "Tio Quincas" - era um mendigo - maltrapilho, borracho, com a boca grande, tipo um clown inglês. Morava de favor. O dono da pensão não cobrava a mensalidade do Tio Quincas. Eram do Alegrete. As familias eram amigas e o dono da pensão nutria uma certa veneração pelo Tio Quincas e por isso morava de graça. O Tio Quincas tomava tres porres por dia, na esquina, logo abaixo, da rua Miguel Tostes, com Cabral, onde ainda há churrasquinho, barzinhos e reunião da turma do bairro para aperitivar.

O primeiro porre era o da manhã, chegava pelo meio dia bêbado, caia nos degraus da escada e era carregado para o quartinho dos fundos. Dormia. Acordava pelas quatro horas da tarde. A zelosa cozinheira guardava um prato de comida, no fogão à lenha no canto do Wallig n° 3. Ele comia e ia para o quarto e com lapis que apontava com gilette passava a escrever em papéis comuns. Escrevia, escrevia, escrevia à lápis. Amassava e botava no lixo. Fumando sempre, cigarros que ganhava dos amigos (filante pois não tinha dinheiro para nada) descia à tardinha. Tomava outro porre, voltava, era levado para o quarto. Tirava uma soneca curava o porre. Levantava e voltava para a esquina famosa, da Miguel Tostes com Cabral, onde ficava até altas horas da noite. A pensão fechava a porta da frente às 20,00 hs. As moças tinham que já estar no quarto. Nem todos tinham chave da pensão. Só quem era adulto, de confiança, e trabalhava ou estudava à noite. O Tio Quincas nem sabia o que era chave da pensão. O porre da madrugada era o maior. Aí era um porre de verdade. Chegava e caia na escada. Sempre tinha algum morador, um que chegava, do colégio ou do trabalho ou algjuém de dentro da pensão que levava o coitado do Tio Quincas para o quartinho lá nos fundos.

Coria o boato na pensão que o dono dava abrigo de graça ao Tio Quincas, pois o pai do Tio Quincas era farmacêutico no Alegrete e homem muito bom, atendia as pessoas, dava remédio de graça, era um pai para a pobreza do Alegrete .

Eu devo ter ficado um ano nesta pensão. Era comum mudar de pensão. Mudei para ficar mais perto do Anchieta e assim não precisar pegar o bonde Independência/Auxiliadora, na frente do palacete do Comendador Antonio Chaves Barcellos, onde hoje é o Cruz Azul.

Sempre aparecia um funcionário da Livraria do Globo e levava uma pasta de papéis do Tio Quincas.

O tempo passou e como eu sempre gostei de ler, descobri as poesias do Mario Quintana, "do Caderno H," - do suplemento Literário dos sábados do Correio do Povo . Ligando os fatos fiquei sabendo que o Tio Quincas tinha se transformado no Mario Quintana, pois, amigos de fé, Breno Caldas, Mansueto Bernardi, Augusto Meyer, Edgar Koetx, os donos da Livraria do Globo, os Bertaso, o Moisés Velinho, Manoelito de Ornellas, o Nilo Ruschel, Erico Verissimo liderados pela turma do Correio do Povo, com Adail Da Silva, o "Dom Luiz" secretário do Dr. Breno, internaram com o a auxiilio do grande médico, dr Jacintho de Godoy, o Tio Quincas na Sanatóirio São José, de propriedade do Dr. Godoy, onde foi feito um tratamento absoluto de retirada do alcool e de prevenção do alcoolismo, durante meses. Assim que o Tio Quincas entrou no Sanatorio e saiu de lá o Mario Quintana.

Nério "dei Mondadori "! Letti.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

AS ÁGUAS DO DILÚVIO DIMINUEM

8 E lembrou-se Deus de Noé e de toda a besta, de todo o animal, de toda a rês que com ele estava na arca, e Deus fez passar um vento sobre a terra e aquietaram-se as águas. 2 Cerraram-se também as fontes do abismo e as janelas do céu e a chuva do céu se deteve. 3E as águas tornaram de sobre a terra continuamente e ao cabo de cento e cinquenta dias as águas minguaram.4 E a arca repousou, no sétimo mês, no dia dezessete do mês sobre os montes de Ararat. E foram as águas indo e minguando até o décimo mês, no primeiro dia do mês apareceram os cumes dos montes. 6 E aconteceu que, ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela da arca que tinha feito.

Quer dizer, então, que o Velho tinha esquecido da turma toda?
Mas, como assim? A terra estava arrasada, toda a carne “tinha expirado”, Ele não tinha nada para fazer, não precisava se preocupar com os pecados e a corrupção, e mesmo assim, esqueceu do Noé e da bicharada?
Saberia o distinto público me dizer com o quê, exatamente, ocupava Ele sua cabeça?
Bom, mas ainda bem que se lembrou e mandou passar um vento pra secar tudo.
Só que demorou, né? Cento e cinqüenta dias!
E o Noé ainda esperou quarenta dias, depois dos cento e cinqüenta, para abrir a janela da arca?
Viram? A arca só tinha uma janela! Nossa, haja oxigênio pra tanto bicho misturado com gente!
Mas eu ainda fico me perguntando onde estocaram os alimentos pra sustentar tantas bocas, durante tanto tempo, sem freezer, nem geladeira!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

ACERVOS MONSTRUOSOS DE MEMÓRIA

Janer Cristaldo

Leitora me pergunta por que não gosto de museus. Não é bem que não goste. Penso inclusive, que todo marujo de primeira viagem, deve visitá-los. Mas depois de visitados, perdem o interesse. São acervos imensos que exigem dias para serem vistos. Se você passar um dia no Louvre ou no Hermitage está longe de conhecê-los.
Quando cheguei a São Petersburgo, já estava farto de museus. Mas estava ali,diante do Palácio de Inverno dos tzares, e não entrar seria muita esnobação. Entrei. Perambulei por três horas e só consegui ver parte do setor de esculturas. De pintura, não vi nada, já estava exausto e com fome. Preferi acabar meu dia no Literaturnaya Café, que fica ali perto, na Nevsky Prospekt, e pelo menos tem vinho e boa comida.
Museus, hoje, me cansam. A pintura também. É um problema de memória. Os acervos são tamanhos que memória nenhuma os guarda. O último museu de porte que visitei foi o Thyssen-Bornemisza, em Madri. Viajava com minha filha e não o conhecia. Decidi entrar. Tinha perto de quarenta salas. Lá pela décima quinta, desisti. Não lembro de nenhum quadro que tenha visto. Como não lembro de nenhuma escultura do Hermitage. Se não consigo guardar na memória, de nada me servem os museus.
Mas tenho apreço pelos pequenos. Como o de Munch, em Oslo. O de Rodin, em Paris. E o de Sorolla, em Madri. São museus personalizados, que nos mostram a obra de um só autor. Poucas pessoas conhecem a obra de Sorolla, um magnífico aquarelista, que vale, em minha opinião, o Prado inteiro.
Já passei por quase todos os grandes museus da Europa, só no Prado tive trinta horas de aula. Quando penso em pintura, gosto de citar Fernando Pessoa e em seu ensaio intitulado Heróstrato. Se o leitor se sente um tanto inculto por não gostar de percorrer museus – escrevi há alguns anos - sugiro deter-se neste fragmento tipicamente pessoano:
"A pintura afundar-se-á. A fotografia privou-a de muito do seu atrativo. A futileza da estupidez privou-a de quase todo o resto. O que restou tem sido levado em despojo pelos colecionadores americanos. Um grande quadro significa uma coisa que um americano rico quer comprar porque outras pessoas gostariam de comprá-lo se pudessem. São assim os quadros postos em paralelo, não com poemas ou romances, mas com as primeiras edições de certos poemas ou romances. O museu torna-se uma coisa paralela, não à biblioteca, mas à biblioteca do bibliófilo. A apreciação da pintura torna-se não um paralelo à apreciação da literatura, mas à apreciação de edições. A crítica de arte cai gradativamente para as mãos dos negociantes de antigüidades".
Turista inteligente – dizia eu há pouco - é o que conhece os museus por fora e os bares por dentro. Em matéria de museus, tenho gratas lembranças de um na Alemanha, o Berlin Museum. Visitei-o bem antes da queda do Muro, na Berlim Ocidental. Pagava-se alguns marcos de ingresso e aos domingos enfrentava-se fila. Não lembro bem o que guardava - creio que trens antigos - e suponho que tampouco o lembrem suas centenas de visitantes. Mas não esqueci, nem visitante algum terá esquecido, o simpático café que ficava ao final dos corredores, onde um garçom servia um vodca com figo e pimenta, este sim, inolvidável. Os alemães, pragmáticos, haviam entendido como atrair público a um museu.
Pois... estive mês passado em Berlim, sedento pelo museu. Nada feito. Não existe mais. Assim sendo, nada de museus em Berlim. Nesta viagem, como aliás em viagens passadas, não visitei museu algum. Ou melhor, visitei. Sem querer. Nyhavn, em Copenhague, é um canal tomado por bares e restaurantes. Passei quatro ou cinco dias lá. Para acabar descobrindo que, em verdade, era um museu. Museu de antigos veleiros, ali ancorados para fazer paisagem. Tudo bem. Museu assim, eu topo.
Os museus se tornaram acervos monstruosos de memória, que memória nenhuma abarca. Melhor os bares.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

A dialética confusão da vida. Circularidade das relações perigosas. Como dizia o frade dos Livros, o Frei Rovilio Costa - "con noantri o sensa noantri il mundo vá torno stesso" - com nós ou sem nós o mundo gira da mesma forma.
Agora temos o torvelinho total do micro e das relações "on line" - precisa uma equipe para atender o correio eletrônico, ler os emeils, selecionar, imprimir, cortar, colar, gravar, arquivar nas pastas eletrônicas, guardar na memória, e viver na roda viva da loucura do processamento de dados..Ficha limpa. Penhora on line. Bá. Esses dias um amigo meu que se flagelou e quebrou e ficou devendo na praça, correu aqui no meu canto, e me pediu ajuda advocatícia, pois, tinha tido sua conta salário,no banco atingida pelo ônus da famosa "penhora on line". O meu amigo ficou sem dinheiro. Não tinha o que comer. Nem ele e nem a família. O oficio do Juiz é expedido impresso, tudo no micro, ninguém lê, vai ao Banco Central, e num segundo o Banco Central rastreia as contas do cara e acha e aí mete o ônus do gravame total sobre o dinheiro da conta. Bá. E a cobrança mais rapida que eu já vi. Mais que os homens de vermelho, os cobradores de contas dos devedores, dos caloteiros, o homem de vermelho, ficava parado em frente a sua casa, na saida do edificio, no seu local de lazer, etc..era uma vergonha total. Todos na vizinhança ficavam sabendo que o cara estava devendo pois o homem de vermelho não largava o pé do devedor. Até que entraram com uma ação e a Justiça acabou com a firma do gênio gaudério que inventou os cobradores vestidos de vermelho.

Ainda bem que vestiu os cobradores traumáticos de vermelho. Jamais iria vestir os cobradores de azul.

Depois do jogo em que o meu Grêmio imortal, perdeu de 5x4 para o Fluminense no Engenhão tudo pode acontecer eis que o FRED fez quatro golos nas minhas redes tricolores. Vamos convir que ´-e demais, e nesta altura ser gremista é um sacerdócio.Ainda mais que os baianos perderam para os vermelhos no estádio da beira do rio. Vocês viram que enquanto o time vermelho jogava contra os baianos do Toninho Malvadeza e do Senhor do Bom Fim - do Pelourinho - a turma da FIFA - os empresários que vão financiar a FIFA na Copa de 2014, os patrocinadores, a turma da grana - estava comendo churrasco no Galpão Gaúcho, do Piratini, junto com o homem do olho azul que nasceu em São Borja, o nosso Tarso. Nem foram ao campo da beira do rio ver o jogo. Não se interessam por futebol. Querem saber de grana. Queriam a garantia do governador e da Brigada e da Policia, que no entorno do estádio que vai ter jogo da Copa de 2014, num círculo de 4 Km ninguém pode vender nada. nem cachorro quente, nem pipoca. nem churros, nem algodão doce. Nada. Nossos ambulantes vão se ralar. Eles querem garantia total de exclusividade de vender dentro e fora do estádio e aí vem a briga das cervejas. Aquela das mulheres lindas holandesas que na Copa da Africa do Sul, no meio da torcida, corpos esculturais, rebolavam, chamaram atenção do mundo, pois, faziam, sub-liminarmente, marketing da outra cerveja que não a patrocinadora da Copa da Africa do Sul. Deu o maior barraco. A Policia e os seguranças do Blatter, presidente da Fifa, prenderam as holandesas boasudas, deportaram, surraram, deram tapões e bofetadas, para mostrar quem era quem e sumariamente foram mandadas de volta para a Holanda num avião fretado pela Fifa. Nada de concorrência. Nada de dividir. Nada de socialismo. Capitalismo total, selvagem, não selvagem. Não interessa. Na copa de 2014 só eles vão vender. O Tarso, dizem, ficou apavorado, pois, o Tarso, tem formação socialista e é chegado num comunismo gaudério. Mas os capitalistas europeus, os escroques internacionais da FIFA são terríveis. Não querem saber de futebol. Querem saber do lucro e quanto vão ganhar e se o governo gaúcho garante a exclusividade da venda no entorno dos estádios. Para esta gente sem alma o futebol é um detalhe.

Feliz deles. Eu tive que dar explicação para meu neto, Douglas, de 8 anos, gremista fanático ( sem influência do avô) da derrota do Grêmio de 5x4 para o Fluminense. Comecei explicando que o vô Nério sempre foi Fluminense, no Rio, desde o tempo de Castilhos, Pindaro e Pinheiro - do Telê, Vialalobos, Calyle, Orlando "pingo de ouro" e Francisco. Do tempo do craque Didi, etc... As Larangeiras da rua Alvaro Chaves que os Guinle moravam no atual Palacio da Guanabara (era residência dos Guinle) e construiram em 1922, o estádio, pois gostavam de futebol. Depois deram o Palacio para o governo para residência oficial e o estádio para a turma da elite que usava pó de arroz, no rosto, daí o apelido do Fluminense o time "pó de arroz", etc..tricolor aqui, tricolor lá. Não adiantou nada. Meu neto queria saber como o Grêmio levou 5 do "pór de arroz" carioca. Os Guinle construiram em 1922, junto com o Banco Pelotense, o Copacaban Palace então no meio de um areal deserto, para hospedar o rei Alberto da Inglaterra que vinha com a comitiva real inglesa para os festejos do centenário de nossa independência. Se não tivesse o hotel fino como o rei queria não viriam. O governo se borrou. Aí os Guinle resolveram facilmente o problema e construiram, rapidamente, o Copacabana Palace. Em 1922. O rei Alberto veio e se hospedou e adorou. O cozinheiro chefe era um afrodescendente (essa expressão é obrigatória por lei, para evitar racismo) servia de sobremesa, esta que hoje é famosa, comum e todos gostam de comer até hoje e que chamamos de " me dá aí um rei Alberto". O nome ficou e pegou. Era a sobremesa tropical que o cozinheiro do morro da Mangueira fazia para o rei Alberto. Ele comia, repetia e comia várias. Daí o nome de "Rei Alberto". Boa essa. Não. Mas, Vá você explicar ao meu neto a vitória do time dos Guinle, riquissimos, . sobre o meu Grêmio que abriga Rafa Marques, Rochembach, Brandão, Gilberto Silva e tantos outros que acham que jogam futebol. Que tristeza

Nério "dei Mondadori" Letti

terça-feira, 22 de novembro de 2011

CURRÍCULO PARA CASAMENTO

João Eichbaum


- Alô!
- Sim!
- É Luana?
- Sim.
- Luana, me diga uma coisa: você conhece o Fernandão?
- Fernandão?
- Sim, o Fernandão!
- Olha, eu conheço mais de um Fernando...
- Conhece, sim, o Fernando Muralha, que todo mundo chama de Fernandão. Não venha me dizer que não conhece. Seu nome e seu número tão no celular dele...
- Bem, eu...
- Se você não conhecesse ele, eu não estaria ligando pra você, né, porque seu nome tá no celular e por isso eu liguei. Então, não venha me dizer que não conhece o Fernandão...
- Eu ia dizer exatamente isso, e a senhora me atalhou: conheço o Fernando Muralha, sim.
- Ah, sim... Eu sabia. Já foi pra cama com ele, né?
- Não, minha senhora. O meu relacionamento com ele foi simplesmente profissional.
- Profissional, é? Mas, qual é o seu negócio?
- Senhora, sou formada em educação física e trabalho como “personal trainer”...
- Sim, mas e daí...
- Daí que o Fernando Muralha foi meu aluno. Simplesmente isso.
- E vocês nunca foram pra cama?
- Não, minha senhora, já lhe disse, apenas tive um relacionamento profissional com ele...
- Sim, mas como é que tem tanta chamada dele pro seu celular?
- Senhora, me entenda, sempre que ele queria alterar o horário ele me consultava, ou me mandava mensagem...
- Então, nunca fizeram “love”, é?
- Não, minha senhora. Repito: só tive relacionamento profissional com ele.
- Ta bem!
E seguiu-se o tututu eletrônico da conversa encerrada.
Marina Flores, secretária, estava sendo assediada para uma “união estável” com o descasado Fernandão, o Fernando Muralha. E como não queria fazer “teste drive”, antes de encontrar a tampa pra sua panela, deitou mãos à obra. Aproveitando um descuido dele, anotou todos os nomes de mulheres que constavam da lista de contatos e se pôs a ligar para elas.
Queria saber coisas da intimidade do seu novo amor.
Queria saber se nos seus 48 anos ele tinha o vigor de um garotão de 18.
Se bancava o romântico em cada noite de amor, ou se só ia em motel que oferece aquela promoção “jóia”.
Se na hora do amor se entregava irrestritamente, ou era daqueles que, nos dias de Fórmula 1, dão uma rapidinha, pra não perder a corrida, ou no brasileirão pra ver a repetição do gol do Corintians.
Se dava a patinha, abanava o rabinho, se enroscava com a sua coelhinha no sofá, ou se era daqueles que preferem as loiras geladas e, sem arredar a bunda da frente da televisão, só sabem berrar: “mulher traz mais uma ceva, pega daquelas bem debaixo”.
Se era daqueles que cozinham, chuleiam e bordam, ou se fazia muxoxo de não tou nem aí, quando solicitado:“benzinho, me ajuda a secar a louça”!
Se era daqueles que sempre acertam o clitóris e o vazo sanitário, ou pertencia à turma que marca território em qualquer lugar do banheiro e entrega os pontos já nas preliminares.
Se a “ex” deixou dele porque, de fofinho e babão que era, no inicio do relacionamento, com olhares lascivos e excitantes, virou um bundão xarope que, mal termina a transa, já consulta o relógio.
Coisas assim, tipo afinação para viver a dois, ela queria saber.
Mas, todas as mulheres que constavam no celular tinham tido apenas relação profissional com o Fernandão: a cabelereira, a costureira, a lavadeira, a faxineira, a advogada, a “personal trainer”. Cada uma na sua área, umas para suprir as necessidades domésticas de um homem descasado, outras, por opção profissional. Nenhuma no terreno afetivo.
Ao se dar conta de que o Fernandão não ia deixar furo, Marina Flores desistiu. Só lhe restava então apostar nele, como quem aposta na Mega Sena: esperando a sorte. Como acontece pra todo mundo. Que ninguém é bruxo, para escapar das armadilhas do amor.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

MINISTRO GARANTE CONSUMO DE CRACK

Janer Cristaldo

Em Copenhague, visitei Christiania. É uma espécie de estado dentro do Estado, um território livre onde se pode vender e consumir drogas. O local, squaterizado em 1971, foi cuidadosamente arranjado de modo a parecer terra arrasada após algum conflito nuclear, no melhor estilo dos filmes-catástrofe de Hollywood.
Naquela época – leio na rede - muitas pessoas provenientes de diversas grandes cidades dinamarquesas sentiam-se traídas pelo governo, acreditando haver certo descaso quanto ao sistema habitacional por parte dos políticos e seus representantes. Os primeiros ocupantes da área que mais tarde viria a ser nomeada de Christiania tinham como ideal comum a rejeição a certos valores morais e convenções sociais e, principalmente, aos ideais capitalistas que assolaram a Europa no contexto pós-Segunda Guerra Mundial. Os habitantes de Christiania também queriam um espaço verde e aberto, para que pudessem criar seus filhos longe do crescente tumulto de Copenhague.
Hoje, ali se vende abertamente maconha, haxixe, cogumelos alucinógenos e algumas coisas mais que eu, leigo no assunto, não sei quais são. Numa cidade rica como a capital dinamarquesa, não há ruas calçadas, mas apenas chão de terra. No bairro, vê-se quase só marmanjos entre os vinte e poucos e trinta anos, todos desocupados em pleno horário de trabalho. Mulheres são escassas e, de modo geral, parecem ser turistas.
Justo naqueles dias em que perambulava por Christiania, li na Folha de São Paulo que território semelhante foi inaugurado aqui na cidade, na rua Helvétia, há uns quinze minutos a pé aqui de casa. Escrevi sobre o assunto em 2009. Enquanto José Serra, candidato à Presidência da República, tentava lançar seu nome através de uma legislação antifumo demagógica e pior – inconstitucional -, a droga corria solta nas ruas de São Paulo. Na região da estação da Luz, havia um vasto território onde o consumo de toda e qualquer droga era – e ainda é - livre. Como a droga mais consumida era o crack, convencionou-se chamar aquele espaço de Cracolândia. Mas lá você encontra o que quiser, desde a canabis até a cocaína.
Não imagine o leitor que este comércio é operado na clandestinidade. Nada disso. Ocorre à luz do dia, em plena rua, na frente de viaturas de policiais. Não gosto muito da palavra dantesco, me parece um lugar comum, mas é a única que encontro para definir o local. Dante ilustrado por Doré. Certo dia, passei de táxi por uma extremidade da rua Guaianases, a que mais concentra drogados. Dantesco e assustador. Centenas de zumbis, crianças e adultos, homens e mulheres, enrolados em cobertores e capuzes, cachimbando crack, coalhavam a rua. Nenhum taxista ousa entrar no pedaço. Tudo isto no centro da mais imponente capital do continente.
A Prefeitura quer revitalizar a Cracolândia. Para isso, está tocando um projeto que chamou de Nova Luz. Uma vasta área está sendo desapropriada e será demolida para dar lugar a um centro administrativo. O que me parece uma ótica de cegos. Centros administrativos se tornam desertos depois das seis da tarde. Mesmo que os marginais sejam afastados durante o dia, todos voltarão à noite a seu habitat. Todas as semanas, os jornais nos trazem fotos de pobres coitados fumando crack. Alguns permanecem dias deitados, já nem conseguem parar em pé. Só a polícia, que tem um distrito policial justo na Cracolândia, parece não ver nada.
Ou melhor, vê. Só sendo cego e surdo para não ver. Vê mas não faz nada. Considera-se que o problema é social, não policial. Às vezes, para mostrar serviço, esvaziam as ruas do crack por algumas horas. Apenas por algumas horas. Ninguém é preso, nem usuários nem traficantes. Em pouco tempo, no mesmo dia, os zumbis estão de volta à Guaianases.
Em reportagem da Agência Brasil, o psicólogo Lucas Carvalho afirmava que a Cracolândia, em vez de sumir, “está se fragmentando em diversos pontos da cidade". Se você passar pelo centro da cidade, em torno à praça da República, verá farrapos humanos amontoados na rua, sempre em grupo e sempre enrolados em cobertores, puxando crack à luz do dia, com a tranqüilidade dos justos. A polícia nada faz, afinal o “problema é social”. A polícia será chamada, prometia então Serra, para retirar fumantes de restaurantes.
A fragmentação da Cracolândia, segundo Carvalho, está facilitando o acesso das crianças à droga. "O crack está chegando mais perto delas, antes precisava ir até a Cracolândia. Agora, a Cracolândia está por aí", afirmou. A única providência até agora tomada por ONGs que querem resolver o problema foi fornecer um cachimbo de madeira aos usuários de crack, com o objetivo de incentivar o não compartilhamento do instrumento. Isso porque os viciados constroem modelos artesanais de metal, que queimam a boca, causando feridas, e podem transmitir doenças quando compartilhado com outras pessoas.
Na época, vinte órgãos públicos e mais de 250 policiais não foram suficientes para acabar com a cena que se vê há 20 anos na Cracolândia. Seis horas após o início de uma operação destinada a revitalizar uma das áreas mais degradadas da capital, centenas de viciados voltaram às ruas, com cachimbos em mãos e cobertas nas costas, nos pontos tradicionais de consumo da droga. Em vez de atacar o problema com o rigor devido, autoridades fornecem cachimbos aos pobres diabos para que se droguem sem maiores problemas.
A novidade, agora, é que a Cracolândia foi oficializada. Centenas de zumbis tomaram um trecho da rua Helvétia e interromperam o tráfico de carros e ônibus. Temos uma Christiania em São Paulo. A polícia parece estar contente. É melhor que os drogados fiquem confinados a um espaço, em vez de espalharem-se pela cidade. Filosofia de quem não quer ver o que existe a seu redor. O crack hoje está disseminado por 90% das cidades brasileiras e veio para ficar.
Leio na Folha que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ofereceu verba para garantir o consumo de crack. Que será repassada até o fim deste ano para a Prefeitura de São Paulo implantar oito consultórios de rua para atendimento a usuários de drogas. A maioria desses postos móveis ficará na Cracolândia. A idéia é que as unidades funcionem 24 horas e tenham médicos, enfermeiros e psicólogos. As equipes poderão, segundo o ministro, internar os dependentes químicos para tratamento.
"É como se fosse um trailer, uma Kombi que fica 24 horas. Se o profissional de saúde avaliar que aquela pessoa corre risco de vida, nós temos protocolos claros da internação involuntária, inclusive defendida pela Organização Mundial da Saúde", declara Alexandre Padilha.
O ministro establece uma diferença bizantina entre internação involuntária e internação compulsória. No caso da primeira, que será adotada pelos consultórios de rua em São Paulo, o recolhimento do viciado se dá após uma análise minuciosa de sua situação, sobretudo se a pessoa está correndo o risco de morrer. Internação compulsória seria um procedimento mais drástico. Viciados que vivem na rua são recolhidos independentemente de correrem risco iminente de morrer.
Ou seja, ao oficializar a Christiania paulistana, o ministro deixa claro que só vai tratar do problema quando o drogado estiver morrendo. Se não estiver morrendo, que continue se drogando até a hora da morte. Falei em Christiania, mas há uma diferença entre o território liberado para a droga em Copenhague e o de São Paulo. Se há algo podre no reino da Dinamarca, pelo menos não vemos moribundos nas ruas. Nem os drogados interrompem o tráfego dos cidadãos.
Chez nous, quando os pobres diabos estiverem com o pé na cova, o ministério da Saúde pensará no assunto. Antes, não.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

O DILÚVIO

17 E esteve o dilúvio quarenta dias sobre a terra, e cresceram as águas e levantaram a arca e ela se elevou sobre a terra
.

Mas que terra, gente? Não era pura água?
Outra coisa: não seria mais fácil mandar um tsunami? Ou naquele tempo os anjos que compunham a assessoria ainda não tinham descoberto que era possível fazer tsunami?

18 E prevaleceram as águas e cresceram grandemente sobre a terra; e a arca andava sobre as águas. 19 E as águas prevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu, foram cobertos. 20 Quinze côvados acima prevaleceram as águas; e os montes foram cobertos.

Bah, precisava repetir isso?
Se até os montes estavam cobertos de água, como é que o cara vem falar em terra?

21 E expirou toda a carne que se movia sobre a terra, tanto de ave como de gado e de feras e de todo o réptil que se roja sobre a terra, e todo o homem. 22 Tudo o que tinha fôlego de espírito de vida em seus narizes, tudo o que havia no seco morreu. 23 Assim foi desfeita toda a substância que havia sobre a face da terra, desde o homem até o animal, até ai réptil, e até à ave dos céus; e foram extintos da terra e ficou somente Noé e os que com ele estavam na arca. 24 E prevaleceram as águas sobre a terra cento e cinqüenta dias.

Isso, sim, é o que se chama de terra arrasada.
Iracundo, destruidor, vingativo, autoritário, puto da cara por qualquer coisa, Javé nunca apresentou qualidades que pudessem identificá-lo como abbas (pai). A primeira virtude de um pai é a capacidade de perdoar. Javé nunca perdoou. A começar por Adão e Eva.
O Cara fez tudo em seis dias, teve tempo pra descansar, mas depois precisou de cento e cinquenta dias pra detonar a natureza, fazer da vida uma desgraça, arrasar tudo, menos Noé e sua família, pelos quais votava uma preferência, que não se pode admitir num pai.
Menos explicável ainda é a preservação de alguns bichos, em detrimento de outros.
Outra coisa: se ele preservou Noé e sua família da morte, é porque considerava a morte um castigo e não uma bemaventurança, como proclamam os cristãos.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Minha mãe, Elvira Mondadori Letti, lá em Antonio Prado, sempre correndo, do galpão da lenha, dos tres tanques de lavar roupa, do depósito de ração para os animais, da "moscarola" grande gaiola de tela bem fininha onde guardava alimentos, evitando "moscas" daí "moscarola" e insetos, antes e depois da chegada da primeira geladeira, "Frigidaire" (frigidére), na década de 50, galpão que tinha de tudo, "mena-rosto" para assar perdizes, passarinhos, etc.. local para o fogo do panelão de fazer sabão onde também se fazia marmelada no grande tacho de cobre, comprado do cigano, quarto de banho, despensa grande rodeada de prateleiras, galpão grande, com tudo, e do galpáo, sempre correndo, ia e vinha diversas vezes até a cozinha da casa, passando pelo pátio calçado, e na cozinha vivia do fogão ao lavador de louça ( em vêneto se chama "cechér"). Minha mãe não parava o dia inteiro. Sempre trabalhando. Nos fundos do galpáo, tinha o galinheiro e a grande horta com tudo, que ela também cuidava. O parreiral e as amexeiras, minha mãe cuidava de tudo. Dos cinco filhos, do marido, e quando meu pai chegava em casa de madrugada, de lautos jantares e muito cigarro e vinho com a turma da "!pesada!" ou do !"funil" - fazia no fogão à lenha (ainda não tinha fogão à gás) fazia duas canecas de aluminio de chá, uma de chá de losna e outra de chá de sálvia, para o fígado, e para facilitar a digestão - "parar in zô el magnar"! (tocar para baixo a comida). Lavava a roupa. Passava e engomava. Fazia a massa em casa e depois passava na máquina presa no canto da parede, no sótão, para em grandes rolos de massa, ser comprimida para baixo nos dois braços, e fazer conforme o apresto que colocava na extremidade, sair o talharim, a taiadelle, o biguli, etc...Preparava o almoço, servia a mesa e a janta. Durante a tarde recebia a visita de amigas da vizinhança, para "chacolar" (conversar) e servia um café da tarde, com mistura na mesa posta.

Pois bem - minha mãe sempre dizia - a velhice é coisa triste. "Vanti deventar véchi e maladi lé méio murrir" ( antes de ficar velho e doente é melhor morrer) .

Nério "dei Mondadori" Letti

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

DE PRIMATAS FILÓSOFOS

João Eichbaum


Foi assistindo futebol que firmei as idéias de Charles Darwin como dogmas, passando a ter certeza de que o homem é irmão do chimpanzé e do bonobo.
Nas arquibancadas, nas sociais, onde quer que esteja, assistindo futebol, o ser humano exibe o seu nada refinado comportamento de macaco. O exibicionismo dos símios nos zoológicos não perde para o dos homens, nos estádios de futebol.
Olha só. Mal aparece um afrodescedentão com sua vasta cabeleira trançada, fazendo despencar cachos por todos os lados, ou a careca luzidia respondendo aos raios do sol, a multidão delira, ergue os braços, uiva, berra, bate palmas, sem pronunciar uma palavra. Age como se não tivesse uma linguagem de consoantes, vogais e vasto vocabulário. Age como se os gestos e os urros fossem seu único meio de comunicação.
Logo em seguida, o afrodescedentão esse se abaixa, toca os dedos no chão e se persigna. Persignar-se é fazer o sinal da cruz, manja? Aquilo de um toque na testa, outro no peito, e um em cada ombro, gestos que formam uma cruz.
Atrás dele vem o time todo, no qual se sobressaem os afrodescedentões.
Os uivos continuam, a histeria toma conta da multidão.
Lá no meio de campo está o juiz, acompanhado dos bandeirinhas. Depois vem o hino nacional, todos perfilados, alguns dos jogadores balbuciam qualquer coisa que se assemelha a um amontoado de vogais e consoantes.
Então, pronto o hino, cada time vai para o seu campo, e aí é a vez do juiz se persignar.
O jogo começa, os uivos e berros continuam, os gestos, as mãos à cabeça, a “hola, hola” a gritaria infernal e a única palavra realmente pronunciada é filho da puta. Ou ladrão.
Assim, todo o tempo: uivos, pulos, coreografia animal, impulsionada pela raiva, pelo desgosto, ou pela alegria desusada que o gol desata.
Não tem nome, nem determinação, nem finalidade a emoção animalesca que o futebol produz. Não serve para nada no contexto social, não ajuda a subsistência, não contribui para a vida eterna.
Fora das “quatro linhas” o fenômeno social assume proporções irracionais. Os afrodescendentões e os poucos brancos que atingem o estrelato se transformam em ídolos, são idolatrados, incensados pela imprensa, considerados heróis. Por razões que nenhuma razão explica são remunerados com salários que muitos reis sonharam, mas não conseguiram, e muitos doutores jamais chegarão lá.
Mas muitos dos que os aplaudem e os idolatram sobrevivem com menos de um salário mínimo.
Uma única coisa se conclui de tudo isso: o futebol é a prova mais concreta de que o homem é um macaco. Não leva a qualquer patamar de dignidade: mantém o primata no seu nível puramente animal.
Essa emoção sem nome, indeterminada, sem objetivos, irracional, enriquece alguns e sustenta, materialmente muitos. Talvez seja a única razão pela qual é tolerada pelos poucos que ainda pensam, esquecendo sua natureza simiesca. É uma alavanca social que gera riqueza, à custa de sentimentos.
Os que vencem, erguem as mãos para o alto, agradecendo a um Deus qualquer. Os que perdem, culpam o juiz.
Sob o peso dessa realidade, questões filosóficas que indagam o sentido da vida, ou propõem a imanência da dignidade no ser humano, não passam de conversa mole pra boi dormir.
E a gente, que é macaco, perde o sono, sofrendo pelo Inter, né?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Meu pai, o velho que nunca ficou velho, pois, morreu com 62 anos, de cirrose hepática, eis que bebeu todas, Horacio Letti, autodidata, leitor e fumante inveterado, comeu, bebeu e cantou com sua turma. Sempre dizia:Não adianta - quem gasta mais do que ganha sempre vai estar em crise.

Olha só a Grécia. Impressionante o que o Estado Grego paga para seus cidadãos de privilégios.. Infindáveis. Mas agora não tem mais dinheiro, como aconteceu no Uruguai, com os jubilados nos anos 60. Se foi o Uruguai, a antiga Suissa americana.

Isto que no tempo dele não tinha Bolsa de Valores, cartão de crédito, celular, micro, internet, etc..gastar com crédito fácil, no negativo do banco. Pelo contrário, o banco até cobrava alguma tacha para guardar e entesourar o teu dinheiro. Assim era melhor guardar o dinheiro,nas famosas "cadernetas de crédito' nos grandes comerciantes, você aí fazendo tua poupança, depositando na mão do grande comerciante e ele ia creditando na tua famosa "caderneta de crédito" um pequeno juro, uma pequena renda. Nós temos, lá em casa, nossas cadernetas que o pai abriu para os filhos, na firma onde ele trabalhava que na época era poderosa. Fima Golin, Irmãos & Cia. Mas, que nos anos 70, por má adminstração, pela inflação que chegou, pelas obrigações sociais que não havia, chegaram a ter 12o empregados em Antonio Prado. Uma façanha administrativa, econômica, financeira, O que queiram. Ninguém antes teve 120o empregados. Penso que nem daqui duzentos anos alguma empresa de Antonio Prado terá 200 empregados. Meu pai, o velho HOrácio era o guarda-livro desta barafunda, tudo no lápis, que ficava na orelha. Compravam tudo do colono. Mas tudo mesmo. Desde a manteiga, crina de cavalo, ovos, leite, costuras, bordados das colonas, vaca velha, mula velha doente, sem falar ano trigo, no milho, na uva e outros produtos de maior envergadura que o colono produzia. A uva era pouca pois o colono sabia fazer o vinho em sua cantina de pedra que servia de porão sobre o qual construiu sua casa. Tudo o que o colono produzia podia vir até os Golin que os Golin ficavam, tinham enormes depósitos, ou iam buscar com as dez carretas de terno de nove mulas ou de cãminhão International Harwester. Dinheiro sonante era pouco. Não existia banco central. Nem controle da moeda circulante. Tudo era no troco. O colono se abastecia do que precisava, café, acúcar, sal, fazendas, tijolos, cal, cimento, farinha, areia, farelo, arreios de couro, tudo que precisava para a roça, enchada, pá, carrinho de mão,,móveis, , etc..cachaça, etc..etc....e meu pai fazia o encontro de contas, tudo no ´lápis no fim do mês e aí vinha famosa "reculuta" que era o final do encontro de contas. Ia meu pai ou outro do escritório pelas colônias, de casa em casa, e se tinha crédito, o colono pagava com algum produto. Se porém, o colono, no encontro de contas tinha ficado com crédito, então, ele ficava com produtos que precisava, queresone, gasolina, lampeão, etc..etc...Nunca esquecendo que a base da colônia foi o moinho colonial, movido a água, onde o colono levava o trigo e o milho e moia e o moinheiro tirava o 40% como custo da moagem, que era o lucro do moinheiro, do moleiro, e o resto o colono ia tirando, durante a semana aos poucos, durante todo o ano, e assim o colono na safra entregava toda a produção de milho e trigo, no moinho, e retirava aos poucos farinha, com o que tinha comida sempre em casa. Tendo farinha de trigo e de milho, o colono retirava da terra o resto para comer e sustentar a familia. Horta, pomar, fruteiras, porco, leite, tinha tudo. Mas, este tipo de cultura acabou, a colônia morreu, os moinhos de água, muitos pelas colònias, todos fecharam, meio o monopólio da moagem do trigo e do milho, nos grandes moinhos, etc..etc...

Mas nunca foi tão verdadeira a lição de meu pai. Vocês, filhos, não precisam beber pois eu bebí pela quarta geração, dizia ele. E jamais gastar mais do que ganhava. Pronto. Aí estava sabedoria de milhares de anos de economia e livros e livros escritos sobre economia.

Acabou tudo. Esfarelou a firma Golin, Irmãos & Cia. de minha infância e de onde o pouco dinheiro que meu pai teve para pagar e nos colocar nos estudos e dizia que os filhos dele não ficariam em Antonio Prado. Iriam estudar fóra e não voltariam para Antonio Prado pois não tinha futuro. Como hoje o jovem não tem futuro algum em Antonio Prado. Não tem emprego. Não tem nada. O que tem agora é muita droga e jovens caminhando de noite, sem rumo, pela praça, sem ter um local onde o jovem sentar, conversar, bater papo, tomar seu trago, namorar. Não tem nem cabaré. Não tem nada em Antonio Prado. Que pena.......

Nério "dei Mondadori" Letti

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

13 E no mesmo dia entrou Noé e Sem, e Cam, e Japhet, os filhos de Noé, como também a mulher de Noé, e as três mulheres de seus filhos com ele na arca. 14 Eles e todo o animal conforme a sua espécie, e todo o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil que se roja sobre a terra conforme a sua espécie, todo o pássaro de toda a qualidade. 15 E de toda a carne que havia espírito de vida entraram de dois em dois a Noé na arca. 16 E os que entraram, macho e fêmea de toda a carne entraram, como Deus lhe tinha ordenado: o Senhor o fechou por fora.

Acho que o cara que escreveu isso tava com Alzheimer: repetiu o que já havia dito. Mas, não faz mal. Nesse ínterim, me lembrei dos peixes.
Vocês se lembram daquilo que está escrito no versículo 21 do capítulo primeiro do Gênesis?
Pois é, lá está assim: “criou as grandes baleias e todo o réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram...”
Então se conclui que dos peixes não foi preciso escolher apenas sete casais: todos eles ficaram numa boa, nadando durante todo o dilúvio.
Mais uma discriminação.
Mas isso facilitou a vida do Noé, claro. Como é que ele iria pegar peixe por peixe, examinar o sexo e atirar na arca seca?
Um monte de aves dentro duma arca, no meio de elefantes, dinossauros, tigres...já pensaram? Sem contar bicho de pé, formiga, pulga, chato procurando pentelho...
E os papagaios, com aquela linguinha ferina, fofocando: viu a galinha garnizé dando pro galo velho? Nossa!!! Aquele macaco é viado! E aquele outro, que olha pras nora do Noé e se masturba!
Outra coisa: onde é que os elefantes iam mijar, hein?
Tem mais: como é que Javé “fechou por fora”? Com chave? Ou pregou umas tábuas?
O pior é que fechou todos na arca e nem disse pro Noé: “qualquer coisa, me chama”.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Bá. Nem pensar. Jogar naquele frio, vento, chuva e tempestade. Encarangam e ficam como cusco em dia de geada forte. Na Segunda Guerra Mundial, os nossos pracinhas da FEB, depois de uma longa viagem pelo mar, vomitando até as tripas, desembarcaram em Livorno, perto de Florença. 1944. Armaram aquelas barraquinhas de acampamento de dois soldados, chamados " de rancho" - Têm fotos do acampamento dos pracinhas. Não é que tres dias depois, antes de entrarem na batalha e subir o morro para guerrear com os últimos alemães que ainda não tinham abandonado a casa-mata no alto da montanha. Teimosos não queriam se entregar. Giravam a metralhadora e matavam os que subiam o morro rastejando. Bala de verdade. Coisa mais feia de se ver. E a cobra fumou. Semelhante e como aqui no nosso Morro da Cruz, no Partenon, quando a Policia sobe, antes de chegar ao topo onde tem a famosa Cruz, erguida pelo famoso "Jorginho da Cruz" traficante morto após o primeiro grande motim do Presidio Central - aquele que fugiram em dois Monzas ( um para Belém Novo e outro para Alvorada) e o deputado Daudt ainda vivia e quis acalmar e quase morreu. Os donos do alto do morro seguindo a doutrina do Jorginho da Cruz quando a policia está pelo meio do morro, começam a disparar lá de cima, protegidos pela casa-mata que é o pedestal ao pé da Cruz. Vem bala de verdade. E um esparramo só.Coisa feia de se ver.

Mas o pior, lá em Livorno, não foi a bala do alemão no alto do morro. O pior foi a neve. Veio neve. O frio foi a 20° C abaixo de zero, e nosso soldadinho estava com o fardamento verde e com aquele capote verde oliva, tipo capa de chuva. Se não é o americano chegar com os caminhões e distribuir os abrigos quentes, forrados de lã, com pele e capús, com pilha para aquecer o corpo, dizem que nossos pracinhas teriam morrido de frio com gangrena nos membros inferiores, enfiados até o joelho na neve.

Mas depois da derrota do Grêmio contra dez jogadores do Atlético Mineiro e a derrota dos vermelhos, dentro de casa, para o "pó de arroz" das Laranjeiras, do Rio de Janeiro - o meu Fluminense, de Alvaro Chaves, nada mais resta a fazer neste estado gaudério. Vamos jogar lá fora. Vamos mostrar aos gringos o que os gaúchos têm......para que sirvam de modelo à toda terra - no famoso hino do gauchismo - o que os filósofos chamam de "imperativo categórico" de Emanuel Kant. Essa é boa. No que os filósofos da nossa terra dizem que o nosso jogo de futebol, a jogada do nosso"craque" deve ser tão boa e tão legal, em direção ao golo adversário e marcar o golo, cuja jogada elegante e eficiente deve servir de - "modelo a todos os jogadores de futebol da terra " - de Barcelona, Real Madrid, Ajax, Milan, Juventus até o notável Mazembe.

Nério "dei Mondadori" Letti

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

LEILÃO DE TOGA

João Eichbaum

Só a conheço por fotografia de jornais. É loira. Não sei se de farmácia ou por natureza. Acredito que, aos sessenta e três anos, só a química ajuda a manter cabelos loiros.
Refiro-me à dona Rosa Maria Weber Candiota, escolhida pela Dilma Rousseff, presidente desta república de bacharéis, para habitar a morada dos deuses em Brasília, conhecida como Supremo Tribunal Federal.
Nunca tive dúvida de que ela seria a escolhida. Pertencendo ao Tribunal Regional do Trabalho de Porto Alegre, ela teve como padrinho seu colega Carlos Alberto Robinson, do mesmo tribunal. Robinson, oriundo da conhecida república de Santa Maria, é um desses juízes que entram pela porta dos fundos nos tribunais, apadrinhados pela OAB e por políticos. Veio para o TRT pelas mãos do Tarso Genro, seu colega de turma de faculdade e de cuja irmã ele é cunhado.
Com base no parentesco e na amizade, Robinson colheu a adesão de Tarso, para apadrinhar também a juíza do trabalho. Ambos, antigos advogados trabalhistas, foram buscar um peso maior no apadrinhamento, outro advogado trabalhista, Carlos Araújo, comunista de carteirinha e por genética, e companheiro do Zé Dirceu, que é réu no processo do mensalão. Araújo é ex-marido da Dilma e pai da filha da mesma Dilma.
A loira Rosa, que é “especialista” em direito do trabalho foi a escolhida, então. Isso depois de uma encenação que durou meses, por conta da peregrinação que outras mulheres fizeram, na Câmara e no Senado, à cata de padrinhos políticos. Saiam de um gabinete e entravam em outro. O Sarney era o mais procurado. Acredito que o era, não por ser o mais corrupto, mas por ser o mais influente, exatamente pela qualificação que nele todo o Brasil reconhece. Num país em que a política é dominada pela corrupção, tanto maior será o líder, quanto mais corrupto for.
Mas, voltando à escolha da nova habitante da morada dos deuses. Daqui do Rio Grande do Sul, para orgulho dos gaúchos deslumbrados (e quanto gaúcho deslumbrado tem por aí, cantando “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra”!) nada menos do que quatro candidatos foram beijar pés e mãos de políticos em Brasília, requerendo a boquinha. Um desembargador e três mulheres. O do sexo masculino levava como bandeira a defesa dos direitos humanos, a começar, claro, pelas reivindicações de viados e lésbicas. Consta que ele teria deixado o currículo com a Dilma e esperado a sorte.
Mas, em seguida, veio a notícia: a Dilma queria só mulher no Supremo. Aí, ele perdeu a graça, e sua esperança de mostrar suas “façanhas como modelo a toda a terra” naufragou.
Sim, tem disso. Aquilo que consta na Constituição, de “notório saber jurídico e reputação ilibada” é conversa para boi dormir. Hoje, três qualidades se sobrepõem a quaisquer outras: o sexo, a cor e o engajamento. Quando a presidência da República determina que uma mulher ocupe o cargo não eletivo do Supremo, todos os demais brasileiros estarão excluídos. Assim como quando determina que um “negro”acomodará seu bumbum naquelas cadeiras imperiais: branco nenhum terá vez.
Então sobraram três mulheres: Rosa Maria Weber Candiota, Maria Cristina Peduzzi, que nem nasceu no Brasil, mas não sei porque é considerada “gaúcha”, e Nancy Andrighi.
Todas as candidatas foram sabatinadas pelo Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Humildes e submissas, servas da frivolidade política, se ajoelharam aos pés do Cardozo, enquanto ele fazia que embaralhava as cartas.
Ao que se saiba, essa é a primeira vez que a subserviência dos bacharéis e doutores, que têm sede de glória e poder, desce a esse nível. Afinal, há um processo a ser julgado pelo Supremo e que pode desmantelar o PT: o processo do mensalão.
Então, não é preciso dizer mais nada. Quando a vaidade exige do indivíduo a humilhação como moeda de troca, ele se desmascara, mostra quem é, e se destitui da maior das virtudes exigidas de um juiz: a inflexibilidade do caráter. E aí vem à tona a sabedoria de nossas bisavós: quanto mais a gente se abaixa, mais a bunda aparece.
Nenhuma estupefação poderá causar a circunstância de que uma pessoa “especialista” em direito do trabalho venha a dar sua última palavra em processo criminal, quiçá o mais importante da história política do Brasil. Porque, hoje, nesses tempos de madrasta de Branca de Neve, (espelho, espelho meu, haverá governo melhor que o meu?) o critério para a escolha de ministro STF tem tudo a ver com o PT: quem mais prometer para o Executivo, leva a toga.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

O Dr. Paulo Brossard - de chapéu fica bem melhor. Sem chapéu aparece sua vasta e a cuidadosamente e bem descuidada cabeleira branca. Nem parece um gaúcho de Bagé .Fazendeiro. Nem que tenha sido do PL - Partido Libertador - dos maragatos, cuja marca e sinal era o lenço vermelho e o alfinete da lapela com o "barrete frígio" vermelho. Depois mudou de sigla e até se elegeu Senador pelo MDB.

Carlos Machado, o rei da noite gaúcha, no seu gostoso livro - " Memórias sem maquiage" - onde descreve o famoso cabaré do Lulu dos Caçadores, na rua Andrade Neves, nos áureos tempos do Borgismo, e da elite rural que dominanava o RGS e frequentava a famosa casa noturna que marcou época na América do Sul, tem um personagem da turma de boêmios notável, e que acabou sendo apelidado, devido ao fato de usar ou não o chapéu, quase obrigatório naquele entonces, de - "sem chapô" - e assim ele passou para a história.

, O francês era a lingua das mulheres da noite, apesar de serem húngaras. Importadas de Paris falavam um dialeto difícil de francês, húngaro e português,uma misturança. Que tudo se resolvia na guerrilha dos lençóis. Quanto me lembro, sem consultar dicionário, "sem chapéu", em francês seria "sen chapeuax". O "aux" em francês soa " ô"....Como em Assis Chateuabriand - era o "Chatô, rei do Brasil" do livro clássico, do dono dos Diários Associados, o macunaíma moderno deste país tropical.

Bateu a miudinha de verdade, pois, nem o João Gilberto, vem a P. Alegre cantar com seu violão a "bossa nova" que inventou no clássico disco de 78 rotações, 1958, de um lado com "Bim,Bom" e do outro lado com "Chega de Saudade". Uns dizem que é genioso e brabo o ex- da Miúcha, irmã do Chico Buarque, (ambos chatos, vamos admitir, e da chatissima música de protesto, pois, pertencem à esquerda festiva) . Outros dizem que não, eis que o temperamental baiano está acamado, atacado de forte gripe. Os médicos dizem que não é o vírus da "influenza" que aqui tomou o nome de Gripe Espanhola, em 1918.

O vírus da "influenza" - doença que atacou toda a Europa, tomou este nome de Gripe Espanhola, só aqui no RGS, pois, aportou em Rio Gande um navio espanhol e os marinheiros estavam atacados do famoso vírus da "influenza" e morreram todos. O pavor foi tanto e se espalhou pela gauchada que o contágio se deu devido ao fato deste navio trazer marujos atacados da famosa doença pulmonar e que matou milhões pelo mundo. Porém, aqui no RGS e só aqui, tomou o nome até hoje de Gripe Espanhola. Os espanhóis ficam brabos e pedem briga quando alguém pronuncia na sua frente a expressão "Gripe Espanhola". Espanhola coisa nenhuma. Era mundial. Não só na Espanha. Olé......

O hospital da Brigada Militar, chamado de Lazzaretto, ficava na esquina da rua Campos Velho ( faixa preta) com a Av. Icaraí, bem no canto, do atual Prado , do decadente Jóquei Clube do RGS, aí no bairro Cristal. Prédio clássico e que foi derrubado, como tantos outros em P. Alegre. Pelos iconoclastas e poderosos do dia. Todas as manhãs, o carretão da Brigada Militar, setor de Saúde, carregava até o Lazzaretto, as pessoas que já tinham morrido, durante a noite, ou estavam moribundas. Chegavam carretadas de corpos de portoalegrenses mortos ou já morrendo ( não tinha o que fazer - não havia vacina preventiva) e o cara que já estava na última, prestes ao suspiro final, já era levado, para aproveitar a viagem do carretão e assim evitar o contágio para os demais. Posto que o contágio era fatal. Não há estatística, mas se sabe que morreram milhares de gaúchos atacados da famosa Gripe Espanhola.

O Arcebispo Dom João Becker, que também foi atacado do vírus, mas conseguiu se salvar, ( foi tratado pelo competente médico Dr. Ricaldone, não lembro o primeiro nome dele) , residia no famoso palacete da rua Mostardeiro, 159, no bairro Moinhos de Vento (residência oficial do Arcebispo) e fez prédicas e sermões famosos acusando os gauchos pecadores e devido ao pecado de frequentarem o cabaré do Lulu dos Caçadores, Deus os castigou com a praga bíblica da Gripe Espanhola.

Quando o Lulu dos Caçadores subiu para o Rio, na Revolução de 30, com Getúlio, e abriu o famoso Cassino da Urca, apogeu do jogo, do carteado, do pano verde e da boemia carioca, do teatro de revista do rebolado das vedetes famosas, no frenesi da roleta e do bacará, o antigo famoso cabaré da rua Andrade Neves, passou a abrigar a Sociedade Protetora do Turfe, que chegou até nós. Com a falência das corridas de cavalos, depois virou um bar noturno de pouca duração e demolido, hoje tem um terreno baldio. Ao lado do Centro Espírita Allan Kardeck. Pesquisas históricas, mostraram que o famoso "beco do mijo" não era a atual rua coberta Acylino de Carvalho. Não. O "beco do mijo" onde a turma se aliviava da cerveja "se ubicava" onde hoje fica, mais ou menos, a Galeria Edithe, com escada rolante, ligando a rua da Praia com Andrade Neves.

Pelo que descreve o Dr. Brossard, há um vírus desconhecido ( ou até bem conhecido, como dizem alguns) que atacou Brasilia. (Capitanias hereditárias no século 21, 01 de novembro de 2011 )

Nério "dei Mondadori" Letti

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

QUERO UMA IGREJA

João Eichbaum

Incomodado com o alto valor da indenização paga a uma família, que teve a casa desapropriada pela Prefeitura de Mogi das Cruzes, em São Paulo, Dadeus Grings, o rubicundo bispo de São João da Boa Vista, desencadeou uma campanha difamatória contra os advogados que haviam ingressado com a ação. Numa excelente mostra de que como “não se deve amar o próximo”, ele mandou cartas para clientes daqueles bacharéis, esculachando o trabalho deles.
Sentindo-se prejudicados, os advogados ingressaram em juízo. O antístite teve que botar o bundão episcopal no banco dos réus e foi condenado. Não foi para a cadeia porque a pena era de multa.
Com base na condenação criminal, os advogados então pediram indenização, através de ação cível e ganharam a causa mais uma vez. Agora, condenado, o bispo chama o Judiciário de corrupto e diz que não vai pagar.
Perdeu uma grande chance de ficar calado o pedante “servo de Deus”. Depois da briga com o Judiciário, seu verdadeiro perfil aparece na “internet” revelando a personalidade doentia desse religioso, que hoje é o “pastor de almas” da Arquidiocese de Porto Alegre, muito parecido com aquele Javé raivoso que destruiu Sodoma e Gomorra, mandou um dilúvio para arrasar todo mundo, permitiu a crucificação de seu próprio filho, etc:
"A diocese e seu bispo valeram-se de sua posição religiosa e social, mostraram-se presunçosamente acima da lei, constrangeram a Justiça e afrontaram a independência dos profissionais da Advocacia. A perseguição aos autores foi brutal, demoníaca: carta enviada à mma. juíza, publicações nos jornais com comentários desrespeitosos aos julgadores, cartas aos clientes dos advogados com críticas ferozes ao seu trabalho, manifestações dos padres (são 66 na diocese) durante as celebrações religiosas, distribuição de panfleto à saída das igrejas. E muito mais, num infindável arsenal de ofensas" – reza o acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Quer dizer: o bispo Dadeus Grings colocou a Igreja a serviço de sua realeza episcopal, mostrando que, ao contrário de Jesus Cristo, se tornou pastor “para ser servido, e não para servir”
Claro, ele não tem nada em seu nome. Tudo está no nome da diocese, quer dizer, pertence a Deus. Até as cuecas de sua excelência reverendíssima, que as freiras penduram no varal, depois de proferirem votos de castidade, pertencem a Deus.
Dadeus se esconde atrás da religião, adquire bens e os coloca no nome da Mitra, leva uma vida principesca, não paga imposto de renda, e pode calotear à vontade.
Quer dizer: para pagamento da indenização, já que o arcebispo, além de caloteiro é sonegador de impostos, serão penhorados os bens da diocese de São João da Boa Vista, em São Paulo. O palácio episcopal, os automóveis, as igrejas, tudo pode ser objeto de penhora.
To nessa, respeitável público! Se as igrejas forem a leilão, me candidato.
Quero ser outro Edir Macedo da vida. Quero enriquecer em nome de Deus. Vou pregar, vou rezar, vou fazer falsos milagres, aproveitando a ingenuidade do povo.
No dia do leilão das igrejas de São João da Boa Vista estarei lá: quero uma pra mim. Já vi que, com trabalho, não se consegue nada. Mentindo, a gente tem muito mais possibilidades de vencer na vida. E se à mentira juntar a corrupção dos políticos, bá, aí deu, vou figurar na Forbes, em seguidinha.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

5 E fez Noé conforme a tudo o que o Senhor lhe ordenou.

E precisava dizer isso? Quem é que não faria, hein? Quem é que não faria, pra não ser enrabado? Já naquele tempo o pessoal conhecia o ditado:"quem tem cu tem medo".
O Noé tinha semancol e fez tudo direitinho, sem aquela cara de quem teve a integridade física prejudicada por dedo de proctologista.

6 E era Noé da idade seiscentos anos, quando o dilúvio das águas veio sobre a terra.

Quer dizer: Javé não respeitou nem a idade do velhinho: botou o cara no batente.
Hoje em dia o pessoal é mais civilizado, tem até Estatuto do Idoso, né?

7 E entrou Noé, e seus filhos e sua mulher, e as mulheres de seus filhos com ele na arca, por causa das águas do dilúvio. 8 Dos animais limpos e dos animais que não são limpos, e das aves, e de todo o réptil sobre a terra. Entraram de dois em dois, macho e fêmea, como Deus ordenará a Noé.

Agora vocês pensem nesses aguaceiros que pegam o pessoal de surpresa na encosta dos morros e matam crianças inocentes e adultos safados, sem discriminação. Nem precisa dilúvio. Basta a chuvarada de uma só noite.

10 E aconteceu que, passados sete dias, vieram sobre a terra as águas do dilúvio. 11 No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas do céu se abriram. 12 E houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites.

O Velho tava a fim de meter o bafo azedo de sua ira em todo o mundo, mesmo.
Parece ata de reunião de conselho deliberativo ou de condomínio, dessas merdas que nunca dão em nada. Só que aqui, no caso, deu. O Velho tinha botado na cabeça que ia arrasar tudo pra recomeçar zero quilômetro. E mandou água pra afogar a pecaminosa humanidade feita de carne, que fazia sexo porque sexo é bom, e o bicharedo inocente, que era também feito de carne e só fazia sexo porque a carne exigia.
Parece que confundi a cabeça de vocês, né? Mas, vou tentar explicar o que o Velho não se lembrava mais. O humano tem um “chips” no cérebro que o distingue dos outros animais. É o “chips” do entendimento, da compreensão, do raciocínio, da razão, seja lá que nome quiserem dar. Aquela história da maçã, sabe, da árvore do conhecimento? Pois é. É isso. Quem comeu a maçã foi a mulher, não a serpente.
Mas, com o dilúvio todos os bichos pagaram pelo que não fizeram: nenhum deles comeu a maçã.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

O momento é delicado. Eu faz pouco curti meu câncer amigo de próstata e fui tratado no ótimo hospital Santa Rita, da Santa Casa, e os notáveis médicos, que usam e trabalham com aquela máquina maravilhosa, fabricada nos Estados Unidos, que lança elétrons aquecidos de uma haste de metal atômico, até tua próstata, me disseram e me garantiram que eu estou curado do câncer de próstata. Me mandaram embora, fazer exame semestrais com o meu urologista de controle e me afirmaram - deste câncer você não morre mais. Agora, me alertaram, numa boa, " te cuide da cintura para cima", - coração, pulmão, etc..pois você é baixinho, do pescoço curto, está gordo, 95 quilos, obeso, =já tem um pouco de diabete e de pressão alta. E isto sim, pode te levar à morte. Emagreça urgente e cuide de tua pressão e de tua glicose.

Nunca tinha visto tanta gente se tratando naquele notável hospital do câncer que tem uma placa de seu fundador, a quem conheci, o notável Dr. Heitor Cirne Lima .

E o que chega de ambulância do interior, é brincadeira. E um povo, diariamente, fantástico. O pessoal do interior, que acompanha o paciente, vem pilchado, de bota, bombacha, chapéu de aba larga tapeado na testa, pala, lenço no pescoço. Na sala de convivência no ´térreo onde fica este povo todo que vem junto com o paciente (muitos deles é a primeira vez que vem à capital e ficam deslumbrados) tocam música gauchesca. E um espetáculo. So falta fundar o "!CTG Santa Rita" e uma bailanta.

Apesar de ser na laringe e nisto meu irmão é craque, o Nicanor, é a especialidade dele, mesmo assim, o Lulla vai ficar bom. Lógico. A corrente positiva a favor dele é de todo o Brasil, como o caso do seu Vice, o bom José de Alencar, que fez nem sei quantas cirurgias do seu câncer e enfrentava com bom humor e otimismo. O meu colega Fábio Koff, gremista emérito, campeão, o Dr. Nédio Stefen, já extirpou uma corda vocal dele, faz muitos anos. Tinha câncer. Quem não conhece o Dr. Fabio Koff, até os colorados.

Quem me dá a honra e tem paciência e saco de ler meus emeils sabe que durante o tratamento do meu câncer de próstata eu escrevia descrevendo e acompanhando o tratamento maravilhoso do hospital Santa Rita.

Aliás, a Santa Casa é administrada por um triunvirato de Magistrados - Presidente, Provedor-mór - o Juiz Federal dr. José Sperb Sanseverino ( gremista) - 1° Vice-Provedor - o Desembargador José Guilherme Englert (meu colega de Anchieta e de Faculdade de Direito de 1950 a 1962) e o 2° Vice-Provedor, é o notável Desembargador Salvador Horacio Vizotto.

Como no tempo de internato no Anchieta, nos anos 50, eu coroinha, ajudei muitas missas na velha e tradicional capela da Santa Casa, nem tanto pela missa, mas, muito mais, pelo café com mistura que era servido pelas atenciosas e generosas freiras que cuidavam da Santa Casa, após a Santa Missa. Era um café de verdade. A comida no internato do Anchieta feita pelos "Fritz" os jovens alemães da colônia que faziam todo o serviço doméstico do grande colégio e coitados, nunca iriam passar da categoria de !"Fritz". A comida era péssima. O arroz era uma passoca que era chamado de "unidos venceremos". Portanto, no café após a missa na Santa Casa eu matava a fome e sempre ganhava um baita pacote, com pão, bolacha, biscoito, bolo, etc...que a freira me dava e eu guardava no armário para ter de reserva durante a semana. Era tudo em Latim. Eu sabia tudo de paramentos, cores, conforme o tempo e a festa segundo o evangelho, se as cores das vestes do padre deviam ser branca, verde, vermelha ou lilás. Havia toda uma liturgia notável. Eui sabia tudo de missa. Mais do que do meu Grêmio que ainda estava na Baixada Tricolor, aí nos Moinhos de Vento, ao lado do Prado, um pouco adiante da Santa Casa..( hoje é o Parcão).

Lógico, não vou negar, após a missa, sempre tomava um bom gole de vinho de missa que tinha em abundância na sacristia. Que vinho maravilhoso. Abria o apetite de verdade. Natural, pois, muitas missas eram rezadas na tradicional capela, diariamente. Precisava de muito vinho. Tinha um padre velho, alemão, não vou dizer o nome dele (digo outra hora) que no ofertório, quando o coroinha passa o vinho e a água das duas galhetas para o cálice sagrado, para depois, na Consagração, se transformarem em sangue, como a hóstia em corpo de Deus, fazia sinal para esvaziar a galheta. Despejar todo o o vinho. E da galheta da água, era só uma gota.

Ajudei tanta missa, além do col. Anchieta, nas capelas, igrejas, santuários, hospitais, sanatórios, colégios que existem em P. Alegre inclusive no interior dos palacetes da elite católica que tinham seu alta particular - que penso ter assegurado cautelarmente, por antecipação, uma cadeira no céu.

Nério "dei Mondadori" Letti.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

UM ARCEBISPO QUE NÃO CONHECE O EVANGELHO

João Eichbaum

O Arcebispo Dadeus, que se diz “representante de Deus” em Porto Alegre, devia ter ficado na colônia, plantando batatas e, dessa forma, colaborando para o crescimento do PIB. Mas, ao invés de ter seguido a profissão para a qual foi talhado, resolveu ser padre. Ele pra bobo não serve: entre ter que pegar a enxada e ter tempo de sobra pra coçar o saco, preferiu a última hipótese.
Resultado: mesmo depois de ter estudado filosofia e teologia continuou grosso e tosco como tronco de angico. Com a diferença de que o tronco do angico não é ignorante, nem mal educado, e dentro dele não cabe a parvoíce do mencionado Arcebispo.
Nessa profissão clerical que abraçou, que não incrementa o PIB, porque nada produz, o arcebispo vive de espórtulas e, com elas, leva uma vida de príncipe, tem férias, mora num palácio, viaja para Roma, etc. Nada produz, mas tem dinheiro, porque o povo deposita suas moedinhas na caixa de coletas e paga para ser católico, inclusive para receber certos sacramentos, como o matrimônio, entre outras coisas. Sem falar no dízimo.
O patrão do Arcebispo, a quem ele e os demais cristãos chamam de Deus, não paga salário, nem férias, nem aviso prévio e muito menos o décimo terceiro. Quer dizer, a “Divina Providência” não providencia bosta nenhuma. Então o sustento e o luxo, a boa vida que o Arcebispo Dadeus leva, são patrocinados pelo povo que acredita nessa empresa chamada Igreja Católica, cujo produto é a salvação da alma.
Pois, apesar de ser sustentado por outros, sem trabalhar, sem pagar impostos, sem contribuir para a riqueza nacional, o arcebispo Dadeus se acha no direito de julgar todo mundo.
Anteontem, ele convocou uma entrevista, para desancar em cima do Judiciário, que qualificou de corrupto.
E sabem por quê? Porque foi condenado a pagar indenização por danos morais, em razão de ter aberto a boca para dizer asneiras contra três advogados.
Só tem um detalhe: a sentença, contra a qual o “representante de Deus” se rebela, foi proferida por desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo. Os juízes do resto do Brasil nada têm a ver com isso. São inocentes. Eles não merecem a diatribe do furibundo pastor: “ou o Brasil muda o Judiciário, ou o Judiciário acaba corrompendo o Brasil”.
É claro que ninguém gosta de ser condenado, principalmente quando é obrigado a puxar o talão de cheques. Até admito que o Arcebispo poderia xingar os juízes que o condenaram, e sair vociferando coisas tipo, “filhos da puta, vou comer a mulher de vocês, seus cornos”.
Mas, ao agredir inocentes, e esquecido de que as taras sexuais de muitos padres e bispos não autorizam a acoimar a Igreja Católica de “tarada”, ele prova que não conhece o evangelho. “Amai-vos uns aos outros”. “Se alguém te bater na face esquerda, oferece-lhe também a direita.” Esses são os ensinamentos do Cristo, que o Arcebispo deveria divulgar. Mas, ao contrário, ele sai disparando contra todo o mundo, atinja a quem atingir, como se fosse um ser reluzente, dono do mundo e da verdade.
Se ele lesse o evangelho, saberia que o próprio Jesus Cristo, longe de atacar seus algozes, fez por eles a seguinte oração: “Pai, perdoai-os, porque não sabem o que fazem”.
Se eu fosse juiz, na próxima sentença imporia para o Arcebispo uma pena alternativa: ler todos os dias o Evangelho.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Está aí a declaração, da vedete do Brasil, Virginia Lane, com 86 anos, dizendo que viveu com Getúlio por 15 anos e que no dia da morte do Getúlio estava com ele na cama, no Palacio do Catete. No dia 24 de agosto de 1954. Em outra oportunidade, Virginia Lane, disse que estava com Getúlio, por amor e pelo fato de que Getúlio estava separado de sua esposa, dona Darcy Sarmanho Vargas, fazia muitos anos. Posto que desde o suicidio do sogro do Getúlio, em São Borja, quando da grande crise do Banco Pelotense, sendo o velho Sarmanho, o gerente da filial em São Borja, e os fazendeiros perderam todo seu dinheiro, depositado no famoso Banco Pelotense (então um banco notável, o maior banco privado do Brasil. Dizem que o sogro do Dr. Getúlio se matou pois o Getúlio prometia que mandaria o dinheiro e não mandou. E o velho Sarmanho de vergonha se matou. Desde aí, a família Sarmanho, da dona Darcy, jamais perdoou Getúlio, culpando "o pai dos pobres" como causante da morte do velho Sarmanho. A história do Banco Pelontese, já está escrita, pesquisada, há livros escritos, na Faculdade de Economia da UFRGS, uns dizendo que o banco faliu no meio da crise da pecuária, da grande depressão, de 1929, ertc..etc.quebra da Bolsa de New York. Outros dizem que Getúlio nunca perdoou a familia do Cel. Pedro Osório, donos do Pelotense, pois não o apoiaram e nem deram dinheiro para a Revolução de 30, quando Getúlio subiu ao poder, afastando o presidente Washington Luis (paulista) e não deixando o candidato que o derrotara na eleição, Julio Prestes, rico paulista a assumir o poder no Catete. Coisas da Politica cuja verdadeira história quase nunca vem com certeza a público. Dizem que o Getúlio obrigou o Pelotense emprestar o dinheiro a juro baixo, com prazo de sete anos para pagar, para salvar os fazendeiros e ninguém pagou o banco e os fazendeiros não tiveram renda e não pagaram o banco. Prejuizo total e aí, Getúliio aproveitou e retirou do Pelotense o maior depósito vivo em dinheiro que era da Rede Ferroviária, da VFRGS (tudo era de trem) e deixou o banco sem dinheiro sonante. Sem caixa. E por artimanha politica, provocou a "famosa" corrida bancária. Fizeram o alarme público e todos foram para frente das agências do Pelotense, pelo RGS em busca do seu dinheiro e o Pelotense, não tinha o dinheiro sonante para entregar aos depositantes. Aconteceu em Antonio Prado. Quando minha terra entrou em decadência e todos perderam tudo, pois, todos tinham o dinheiro no Pelotense e ninguém recebeu o dinheiro. Diante da crise, o Getúlio, meteu dentro da Diretoria do Pelotense, um amigo de confiança dele - ( lógico não da confiança dos proprietários do Banco - imagine só o rolo que deu) parece que o nome deste amigo do Getúlio era o Sr. Alcides Oliveira ( ou outro nome - mas este tema já está estudado, pesquisado e registrado na Faculdade de Economia da UFRGS e não há mais achômetro e nem atochômetro na história do Pelotense. Há números e tragédias absolutas) - O novo Banrisul distribuiu uns bônus para cada cliente-credor que foram resgatados em diversos anos, sem juros,sem nada. As ótimas filiais do Pelotense pelo interior do RGS passaram a ser filiais do Banrisul, num passe de mágica. Até se poderia usar a expressão de hoje " na mão grande"!.... Ora, o Pelotense, ficou inadimplente. Revolta total. Com o que o Getúlio, então, se aproveitou, e sobre o acervo do Banco Pelotense criou o novo Banco, o Banrisul, e colocou como primeiro presidente, o famoso fazendeiro da Vacaria, o general Firmino Paim Filho, genro do dr. Protásio Alves ( este sempre foi Vice-Governador do Borges de Medeiros). A história do General Firmino Paim Filho, que foi colega de Faculdade de Direito na UFRGS, do Getúlio, formados na turma de 1908, (eram amigos deste o tempo da Faculdade e ambos positivistas) está estudada, contada e pesquisada. Foi um dos maiores fazendeiros do RGS e acabou morrendo pobre, na chácara do Dr. Protásio Alves, no morro Santana, nos altos de Petrópolis, aqui em P. Alegre. Por isso que jamais Getúlio Vargas fez comicios em Pelotas e Pelotas sempre votou contra o Getúlio . Em regra, o fechamento do Banco Pelotense, que decreta o atraso da então notável cidade de Pelotas ( era superior a P. Alegre) faz com que a elite pelotense sempre fosse contra o Dr. Getúlio. Esta saga do Banco Pelotense na grande depressão, de outubro de 1929, fosse nos Estados Unidos, já teria vários filmes, dos ídolos do cinema e teria rendido muita matéria para exame e estudo do cinema, pois envolvle tudo. O mundo que caia, a perda do café, em Santos, que não tinha mais mercado, nem preço, único produto de exportação do Brasil, (Getúlio mandou atirar toneladas de café ao mar, para evitar o excesso de oferta de café no mercado internacional e a baixa do preço total) e se pode considerar a crise de 1929 como a origem da Segunda Guerra Mundial. Mas, aqui no Brasil, um país sem memória, tudo passou. Tudo acabou. Pelotas entrou em decadência e só agora parece que se recupera. Pelo menos a vedete do Brasil, Virginia Lane, só agora como ela afirma, está contando a verdadeira versão da morte do Getúlio, em 24.8.1954. Vale à pena ouvir o emeil e o que diz a vedete das melhores pernas do Brasil, do teatro do rebolado, corista máxima do teatro de Revista, no cassino da URCA que foi o apogeu com a chegada dos gauchos após a revolução de 30. A gauchada além de tomar o poder desenvolveu a noite, a farra, o jogo, o carteado e os cassinos e os cabarés, pois, a elite gauchesca era chegada nestas coisas de boemia desde o tempo do famoso Clube do Lulu dos Caçadores, no inicio do século XX, na rua Andrade Neves. Aliás, o Lulu dos Caçadores, também, foi para o Rio, junto com a gauchada que subiu com Getúlio em 30.

Então, nesta linha de pensamento, em que a nossa liderança da época, era dedicada a alcoolatria balconeira, cabarés, jogos, cassinos. Os homens casados. As mulheres ficavam em casa e os homens iam para o cabaré, para o cassino, para a boemia, esta versão da Virginia Lane, está dentro daquele contexto. A vedete não está delirando. Está dentro do contexto histórico. Talvez seja mentira da vedete do Brasil?...Eu acho que não. Eu penso que a vedete do Brasil está falando uma verdade natural que acontecia com os homens daquela época.Qual o interesse dela de dizer isto agora. Lógico só falou depois de muitos anos. No que está certa. O maior segredo sempre foi os amores da mulher. Pelo lado da mulher. Jamais a mulher conta seus amores. Sabe guardar segredo. O homem é que espalha e se acha o maior. Alguém tinha que ser amante do Getúlio. Ora, um politico, ainda de São Borja, fazendeiro, sem amante., Inadmissível. O que chama atenção é que ela era amante do Getúlio e havia total dominio da imprensa e jamais permitiram que alguma linha fosse publicada sobre os amores de Getúlio com Virgina Lane. Como de resto acontece com muitos presidentes. Keneddy e Marylin Monroe. Bil Clinton e a estagiária Monica Lewinsky, ete. etc..etc..O Mao Tse Tung, não saía de seu gabinete e sempre exigia gurias novas, de preferência virgens, para manter relação sexual, todos os dias. ..Tudo bem. Melhor assim, que gostavam de mulher. Assim como esta versão da vedete do Brasil, Virginia Lane sobre a morte do Getúlio Vargas. Que não foi suicidio e que o mataram dentro do Catete, no Rio de Janeiro. E agora?,.,,,,

,,Pelo menos a Virginia Lane gostava de homem e não de mulher.

Já ouvi em outra oportunidade a Virgina Lane dizer que só amou o Getúio e se tornou amante dele pelo fato de que o Getúlio era um homem só, não vivia com a esposa, Dona Darcy Sarmanho. O casamento era só para efeito politico e uso externo. A dona Darcy odiava o Getúlio. Eram totalmente separados. E o Getúlio adorava a companhia dela Virginia Lane.

Olha, gente, neste particular de amores, pelo menos o Adolf Hitler sempre admitiu e se mostrou vivendo com a Eva Braum e o nosso Benito Mussolini, El Ducce, sempre se mostrou e se apresentou com a sua amada Claretta Pettaci (ambos enforcados, em Milão, em 1945 e dependurados num posto de Gasolina, de cabeça para baixo).....



Nério "dei Mondadori" Letti.