João Eichbaum
- Alô!
- Sim!
- É Luana?
- Sim.
- Luana, me diga uma coisa: você conhece o Fernandão?
- Fernandão?
- Sim, o Fernandão!
- Olha, eu conheço mais de um Fernando...
- Conhece, sim, o Fernando Muralha, que todo mundo chama de Fernandão. Não venha me dizer que não conhece. Seu nome e seu número tão no celular dele...
- Bem, eu...
- Se você não conhecesse ele, eu não estaria ligando pra você, né, porque seu nome tá no celular e por isso eu liguei. Então, não venha me dizer que não conhece o Fernandão...
- Eu ia dizer exatamente isso, e a senhora me atalhou: conheço o Fernando Muralha, sim.
- Ah, sim... Eu sabia. Já foi pra cama com ele, né?
- Não, minha senhora. O meu relacionamento com ele foi simplesmente profissional.
- Profissional, é? Mas, qual é o seu negócio?
- Senhora, sou formada em educação física e trabalho como “personal trainer”...
- Sim, mas e daí...
- Daí que o Fernando Muralha foi meu aluno. Simplesmente isso.
- E vocês nunca foram pra cama?
- Não, minha senhora, já lhe disse, apenas tive um relacionamento profissional com ele...
- Sim, mas como é que tem tanta chamada dele pro seu celular?
- Senhora, me entenda, sempre que ele queria alterar o horário ele me consultava, ou me mandava mensagem...
- Então, nunca fizeram “love”, é?
- Não, minha senhora. Repito: só tive relacionamento profissional com ele.
- Ta bem!
E seguiu-se o tututu eletrônico da conversa encerrada.
Marina Flores, secretária, estava sendo assediada para uma “união estável” com o descasado Fernandão, o Fernando Muralha. E como não queria fazer “teste drive”, antes de encontrar a tampa pra sua panela, deitou mãos à obra. Aproveitando um descuido dele, anotou todos os nomes de mulheres que constavam da lista de contatos e se pôs a ligar para elas.
Queria saber coisas da intimidade do seu novo amor.
Queria saber se nos seus 48 anos ele tinha o vigor de um garotão de 18.
Se bancava o romântico em cada noite de amor, ou se só ia em motel que oferece aquela promoção “jóia”.
Se na hora do amor se entregava irrestritamente, ou era daqueles que, nos dias de Fórmula 1, dão uma rapidinha, pra não perder a corrida, ou no brasileirão pra ver a repetição do gol do Corintians.
Se dava a patinha, abanava o rabinho, se enroscava com a sua coelhinha no sofá, ou se era daqueles que preferem as loiras geladas e, sem arredar a bunda da frente da televisão, só sabem berrar: “mulher traz mais uma ceva, pega daquelas bem debaixo”.
Se era daqueles que cozinham, chuleiam e bordam, ou se fazia muxoxo de não tou nem aí, quando solicitado:“benzinho, me ajuda a secar a louça”!
Se era daqueles que sempre acertam o clitóris e o vazo sanitário, ou pertencia à turma que marca território em qualquer lugar do banheiro e entrega os pontos já nas preliminares.
Se a “ex” deixou dele porque, de fofinho e babão que era, no inicio do relacionamento, com olhares lascivos e excitantes, virou um bundão xarope que, mal termina a transa, já consulta o relógio.
Coisas assim, tipo afinação para viver a dois, ela queria saber.
Mas, todas as mulheres que constavam no celular tinham tido apenas relação profissional com o Fernandão: a cabelereira, a costureira, a lavadeira, a faxineira, a advogada, a “personal trainer”. Cada uma na sua área, umas para suprir as necessidades domésticas de um homem descasado, outras, por opção profissional. Nenhuma no terreno afetivo.
Ao se dar conta de que o Fernandão não ia deixar furo, Marina Flores desistiu. Só lhe restava então apostar nele, como quem aposta na Mega Sena: esperando a sorte. Como acontece pra todo mundo. Que ninguém é bruxo, para escapar das armadilhas do amor.
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