quarta-feira, 9 de novembro de 2011

LEILÃO DE TOGA

João Eichbaum

Só a conheço por fotografia de jornais. É loira. Não sei se de farmácia ou por natureza. Acredito que, aos sessenta e três anos, só a química ajuda a manter cabelos loiros.
Refiro-me à dona Rosa Maria Weber Candiota, escolhida pela Dilma Rousseff, presidente desta república de bacharéis, para habitar a morada dos deuses em Brasília, conhecida como Supremo Tribunal Federal.
Nunca tive dúvida de que ela seria a escolhida. Pertencendo ao Tribunal Regional do Trabalho de Porto Alegre, ela teve como padrinho seu colega Carlos Alberto Robinson, do mesmo tribunal. Robinson, oriundo da conhecida república de Santa Maria, é um desses juízes que entram pela porta dos fundos nos tribunais, apadrinhados pela OAB e por políticos. Veio para o TRT pelas mãos do Tarso Genro, seu colega de turma de faculdade e de cuja irmã ele é cunhado.
Com base no parentesco e na amizade, Robinson colheu a adesão de Tarso, para apadrinhar também a juíza do trabalho. Ambos, antigos advogados trabalhistas, foram buscar um peso maior no apadrinhamento, outro advogado trabalhista, Carlos Araújo, comunista de carteirinha e por genética, e companheiro do Zé Dirceu, que é réu no processo do mensalão. Araújo é ex-marido da Dilma e pai da filha da mesma Dilma.
A loira Rosa, que é “especialista” em direito do trabalho foi a escolhida, então. Isso depois de uma encenação que durou meses, por conta da peregrinação que outras mulheres fizeram, na Câmara e no Senado, à cata de padrinhos políticos. Saiam de um gabinete e entravam em outro. O Sarney era o mais procurado. Acredito que o era, não por ser o mais corrupto, mas por ser o mais influente, exatamente pela qualificação que nele todo o Brasil reconhece. Num país em que a política é dominada pela corrupção, tanto maior será o líder, quanto mais corrupto for.
Mas, voltando à escolha da nova habitante da morada dos deuses. Daqui do Rio Grande do Sul, para orgulho dos gaúchos deslumbrados (e quanto gaúcho deslumbrado tem por aí, cantando “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra”!) nada menos do que quatro candidatos foram beijar pés e mãos de políticos em Brasília, requerendo a boquinha. Um desembargador e três mulheres. O do sexo masculino levava como bandeira a defesa dos direitos humanos, a começar, claro, pelas reivindicações de viados e lésbicas. Consta que ele teria deixado o currículo com a Dilma e esperado a sorte.
Mas, em seguida, veio a notícia: a Dilma queria só mulher no Supremo. Aí, ele perdeu a graça, e sua esperança de mostrar suas “façanhas como modelo a toda a terra” naufragou.
Sim, tem disso. Aquilo que consta na Constituição, de “notório saber jurídico e reputação ilibada” é conversa para boi dormir. Hoje, três qualidades se sobrepõem a quaisquer outras: o sexo, a cor e o engajamento. Quando a presidência da República determina que uma mulher ocupe o cargo não eletivo do Supremo, todos os demais brasileiros estarão excluídos. Assim como quando determina que um “negro”acomodará seu bumbum naquelas cadeiras imperiais: branco nenhum terá vez.
Então sobraram três mulheres: Rosa Maria Weber Candiota, Maria Cristina Peduzzi, que nem nasceu no Brasil, mas não sei porque é considerada “gaúcha”, e Nancy Andrighi.
Todas as candidatas foram sabatinadas pelo Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Humildes e submissas, servas da frivolidade política, se ajoelharam aos pés do Cardozo, enquanto ele fazia que embaralhava as cartas.
Ao que se saiba, essa é a primeira vez que a subserviência dos bacharéis e doutores, que têm sede de glória e poder, desce a esse nível. Afinal, há um processo a ser julgado pelo Supremo e que pode desmantelar o PT: o processo do mensalão.
Então, não é preciso dizer mais nada. Quando a vaidade exige do indivíduo a humilhação como moeda de troca, ele se desmascara, mostra quem é, e se destitui da maior das virtudes exigidas de um juiz: a inflexibilidade do caráter. E aí vem à tona a sabedoria de nossas bisavós: quanto mais a gente se abaixa, mais a bunda aparece.
Nenhuma estupefação poderá causar a circunstância de que uma pessoa “especialista” em direito do trabalho venha a dar sua última palavra em processo criminal, quiçá o mais importante da história política do Brasil. Porque, hoje, nesses tempos de madrasta de Branca de Neve, (espelho, espelho meu, haverá governo melhor que o meu?) o critério para a escolha de ministro STF tem tudo a ver com o PT: quem mais prometer para o Executivo, leva a toga.

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