segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Meu pai, o velho que nunca ficou velho, pois, morreu com 62 anos, de cirrose hepática, eis que bebeu todas, Horacio Letti, autodidata, leitor e fumante inveterado, comeu, bebeu e cantou com sua turma. Sempre dizia:Não adianta - quem gasta mais do que ganha sempre vai estar em crise.

Olha só a Grécia. Impressionante o que o Estado Grego paga para seus cidadãos de privilégios.. Infindáveis. Mas agora não tem mais dinheiro, como aconteceu no Uruguai, com os jubilados nos anos 60. Se foi o Uruguai, a antiga Suissa americana.

Isto que no tempo dele não tinha Bolsa de Valores, cartão de crédito, celular, micro, internet, etc..gastar com crédito fácil, no negativo do banco. Pelo contrário, o banco até cobrava alguma tacha para guardar e entesourar o teu dinheiro. Assim era melhor guardar o dinheiro,nas famosas "cadernetas de crédito' nos grandes comerciantes, você aí fazendo tua poupança, depositando na mão do grande comerciante e ele ia creditando na tua famosa "caderneta de crédito" um pequeno juro, uma pequena renda. Nós temos, lá em casa, nossas cadernetas que o pai abriu para os filhos, na firma onde ele trabalhava que na época era poderosa. Fima Golin, Irmãos & Cia. Mas, que nos anos 70, por má adminstração, pela inflação que chegou, pelas obrigações sociais que não havia, chegaram a ter 12o empregados em Antonio Prado. Uma façanha administrativa, econômica, financeira, O que queiram. Ninguém antes teve 120o empregados. Penso que nem daqui duzentos anos alguma empresa de Antonio Prado terá 200 empregados. Meu pai, o velho HOrácio era o guarda-livro desta barafunda, tudo no lápis, que ficava na orelha. Compravam tudo do colono. Mas tudo mesmo. Desde a manteiga, crina de cavalo, ovos, leite, costuras, bordados das colonas, vaca velha, mula velha doente, sem falar ano trigo, no milho, na uva e outros produtos de maior envergadura que o colono produzia. A uva era pouca pois o colono sabia fazer o vinho em sua cantina de pedra que servia de porão sobre o qual construiu sua casa. Tudo o que o colono produzia podia vir até os Golin que os Golin ficavam, tinham enormes depósitos, ou iam buscar com as dez carretas de terno de nove mulas ou de cãminhão International Harwester. Dinheiro sonante era pouco. Não existia banco central. Nem controle da moeda circulante. Tudo era no troco. O colono se abastecia do que precisava, café, acúcar, sal, fazendas, tijolos, cal, cimento, farinha, areia, farelo, arreios de couro, tudo que precisava para a roça, enchada, pá, carrinho de mão,,móveis, , etc..cachaça, etc..etc....e meu pai fazia o encontro de contas, tudo no ´lápis no fim do mês e aí vinha famosa "reculuta" que era o final do encontro de contas. Ia meu pai ou outro do escritório pelas colônias, de casa em casa, e se tinha crédito, o colono pagava com algum produto. Se porém, o colono, no encontro de contas tinha ficado com crédito, então, ele ficava com produtos que precisava, queresone, gasolina, lampeão, etc..etc...Nunca esquecendo que a base da colônia foi o moinho colonial, movido a água, onde o colono levava o trigo e o milho e moia e o moinheiro tirava o 40% como custo da moagem, que era o lucro do moinheiro, do moleiro, e o resto o colono ia tirando, durante a semana aos poucos, durante todo o ano, e assim o colono na safra entregava toda a produção de milho e trigo, no moinho, e retirava aos poucos farinha, com o que tinha comida sempre em casa. Tendo farinha de trigo e de milho, o colono retirava da terra o resto para comer e sustentar a familia. Horta, pomar, fruteiras, porco, leite, tinha tudo. Mas, este tipo de cultura acabou, a colônia morreu, os moinhos de água, muitos pelas colònias, todos fecharam, meio o monopólio da moagem do trigo e do milho, nos grandes moinhos, etc..etc...

Mas nunca foi tão verdadeira a lição de meu pai. Vocês, filhos, não precisam beber pois eu bebí pela quarta geração, dizia ele. E jamais gastar mais do que ganhava. Pronto. Aí estava sabedoria de milhares de anos de economia e livros e livros escritos sobre economia.

Acabou tudo. Esfarelou a firma Golin, Irmãos & Cia. de minha infância e de onde o pouco dinheiro que meu pai teve para pagar e nos colocar nos estudos e dizia que os filhos dele não ficariam em Antonio Prado. Iriam estudar fóra e não voltariam para Antonio Prado pois não tinha futuro. Como hoje o jovem não tem futuro algum em Antonio Prado. Não tem emprego. Não tem nada. O que tem agora é muita droga e jovens caminhando de noite, sem rumo, pela praça, sem ter um local onde o jovem sentar, conversar, bater papo, tomar seu trago, namorar. Não tem nem cabaré. Não tem nada em Antonio Prado. Que pena.......

Nério "dei Mondadori" Letti

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