terça-feira, 8 de maio de 2012

DA INDIGNIDADE

João Eichbaum

DA INDIGNIDADE

João Eichbaum

Já disse isso mais de uma vez, mas não me custa repeti-lo: a criatura humana não é um ser digno por si mesmo. Como ser animal, não difere dos outros.
Que dignidade pode existir numa coisa que nasce toda melecada, presa numa corda de carne,  manchada de sangue, berrando?
Não é assim que nascem todos os animais?
Por que o animal humano seria diferente? Porque atribuir-lhe algo que ele não traz em si mesmo, se a única qualidade que ele apresenta, logo que aparece no mundo, outra coisa não é senão a própria animalidade?
O homem pode se tornar digno. Disse-o muitas vezes e volto a repetir. E como animal que é, ser relativo, perecível, com prazo de validade, ele não pode comportar nada absoluto. Portanto, mesmo que adquira dignidade, será ela, sempre, uma qualidade relativa.
Assim, uns tens mais, outros menos, outros, dignidade nenhuma. Mas ninguém tem dignidade absoluta.
Há quem saiba disfarçar, mostrando mais dignidade do que tem. É uma qualidade. A hipocrisia é uma qualidade. Pode ser até uma boa qualidade quando a gente a usa para não chocar, para não machucar as outras pessoas.
Tudo isso que digo tem como origem um “escândalo” que tomou conta das manchetes: as fotos de uma atriz, chamada Caroline Dieckman, estão espalhadas na internet, mostrando a bela tal qual ela apareceu no mundo, mas muito melhor: sem manchas de sangue, a cara limpa e feliz, sem a corda de carne, sem os berros e com muita sensualidade (penso eu).
O caso é motivo de escândalo, o delegado de polícia para quem foi apresentada a queixa se mostrou tão indignado com tamanho delito, que ouviu a “ofendida” durante sete horas. Já que não tinha nada mais importante para fazer na vida, colheu detalhes e detalhes, prometendo que vai apurar o crime, inclusive, buscando os criminosos no exterior.
Tudo isso, em nome da “dignidade” do ser humano.
A “dignidade” do ser humano está sempre presente, ou foi ou está sempre prestes a ser ultrajada. Mesmo quando ela não passe de uma mostra de bestialidade.
Isso: bestialidade. Porque só a animalidade é responsável pelo sexualismo doentio que faz (algumas) pessoas se exibirem para si mesmas em frente do espelho, ou se cristalizarem em fotos que mostra sua nudez animal, fomentada pela cupidez do sexo.
E como vivemos num país sem grandes problemas, o caso da atriz nua é uma raridade que merece manchetes e meticulosa investigação policial, porque escandaliza esse povo puro,  inocente,  imaculado, que só sabe  eleger políticos de angelical pureza.



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