DA INDIGNIDADE
João Eichbaum
Já disse isso mais de
uma vez, mas não me custa repeti-lo: a criatura humana não é um ser digno por
si mesmo. Como ser animal, não difere dos outros.
Que dignidade pode
existir numa coisa que nasce toda melecada, presa numa corda de carne, manchada de sangue, berrando?
Não é assim que
nascem todos os animais?
Por que o animal
humano seria diferente? Porque atribuir-lhe algo que ele não traz em si mesmo,
se a única qualidade que ele apresenta, logo que aparece no mundo, outra coisa
não é senão a própria animalidade?
O homem pode se
tornar digno. Disse-o muitas vezes e volto a repetir. E como animal que é, ser
relativo, perecível, com prazo de validade, ele não pode comportar nada
absoluto. Portanto, mesmo que adquira dignidade, será ela, sempre, uma
qualidade relativa.
Assim, uns tens mais,
outros menos, outros, dignidade nenhuma. Mas ninguém tem dignidade absoluta.
Há quem saiba
disfarçar, mostrando mais dignidade do que tem. É uma qualidade. A hipocrisia é
uma qualidade. Pode ser até uma boa qualidade quando a gente a usa para não
chocar, para não machucar as outras pessoas.
Tudo isso que digo
tem como origem um “escândalo” que tomou conta das manchetes: as fotos de uma
atriz, chamada Caroline Dieckman, estão espalhadas na internet, mostrando a
bela tal qual ela apareceu no mundo, mas muito melhor: sem manchas de sangue, a cara limpa e feliz,
sem a corda de carne, sem os berros e com muita sensualidade (penso eu).
O caso é motivo de
escândalo, o delegado de polícia para quem foi apresentada a queixa se mostrou tão
indignado com tamanho delito, que ouviu a “ofendida” durante sete horas. Já que
não tinha nada mais importante para fazer na vida, colheu detalhes e detalhes, prometendo
que vai apurar o crime, inclusive, buscando os criminosos no exterior.
Tudo isso, em nome da
“dignidade” do ser humano.
A “dignidade” do ser
humano está sempre presente, ou foi ou está sempre prestes a ser ultrajada.
Mesmo quando ela não passe de uma mostra de bestialidade.
Isso: bestialidade.
Porque só a animalidade é responsável pelo sexualismo doentio que faz (algumas)
pessoas se exibirem para si mesmas em frente do espelho, ou se cristalizarem em
fotos que mostra sua nudez animal, fomentada pela cupidez do sexo.
E como vivemos num
país sem grandes problemas, o caso da atriz nua é uma raridade que merece
manchetes e meticulosa investigação policial, porque escandaliza esse povo puro,
inocente, imaculado, que só sabe eleger políticos de angelical pureza.
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