João Eichbaum
Pepe Rodrigues, no seu livro “La vida sexual del clero”, não trata
exclusivamente da questão sexual que envolve a imposição do celibato. Ele
analisa a formação dos sacerdotes, dos religiosos e religiosas, apontando
deficiências significativas, de grande poder destrutivo da personalidade.
“A imposição de uma obediência irracional e servil a sacerdotes,
religiosos e religiosas – que, felizmente, nem sempre é alcançada –
frequentemente leva a consequências nefastas para a personalidade do clero obediente. Formar – amestrar – para a
obediência pressupõe fixar, na personalidade do sujeito, estruturas infantis
que permanecerão por toda a vida, coarctando seriamente o processo evolutivo da
pessoa e limitando gravemente suas possibilidades vitais”, afirma o autor.
A essa obediência castradora Pepe atrela o “culto da personalidade”,
quer dizer o culto à pessoa dos dirigentes eclesiásticos, a começar pelo Papa,
condicionamento que cria uma submissão extrema, com “comportamentos servis e
dependentes”.
No outro extremo, a formação clerical induz à ideia de que o sacerdote é
“um sujeito adornado, por desígnios divinos, de uma qualidade e de uma missão
superior à do resto da humanidade”. Com isso, conclui Pepe Rodrigues, “também
se criam indivíduos com complexo de superioridade”, pessoas “egocêntricas,
autoritárias”, seres “mesquinhos” que “desprezam os fracos e adulam os
poderosos”.
E não há como escapar dessa constatação. Todos os que conhecemos padres
ou religiosos nos deparamos com essas duas espécies: os humildes, humildes em
todos os sentidos, de baixa formação cultural, que aceitam, sem indagar, toda e
qualquer ordem, porque não têm capacidade de as fazer passar pelo crivo do seu
raciocínio, e os “que se acham”, que se têm como superiores, detentores de dons
divinos, autorizados expressamente a interpretar a vontade do deus que a
religião deles inventou como seu comandante.
Não há um grupo intermediário, porque todos os que fariam parte dele,
pessoas inteligentes, que sabem o que querem, que não se deixam dominar, mas
também reconhecem seus limites, há muito largaram a batina.
É por tudo isso que a Igreja vem, aos poucos, mas continuamente,
perdendo sua autoridade. Da Igreja que condenou Galileo Galilei à Igreja
que abriga pedófilos já vai grande diferença: é a decadência.
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