DE FLATOS E PERDIGOTOS
João Eichbaum
Uma dos melhores artigos que já li,
na minha vida, sobre o Supremo Tribunal Federal, foi o de Roberto Pompeu de
Toledo na VEJA desta semana: “Data Venia”.
Ele faz uma paródia, com direito ao
latim, do diálogo entre os ministros, durante a merenda, ou como gostam de
dizer alguns importadores de americanismos, durante o “coffeebreak”, no meio da
tarde.
É bem assim. Os ministros, por algum
tempo, perdem o rumo do Direito, se esquecem da pompa, do processo, dos
debates, da erudição e da vaidade, e passam a gozar das boas coisas da vida.
Entregam-se de corpo e alma ao pecado capital da gula.
E se refestelam. Atracam-se nas
acepipes que nós, contribuintes, pagamos. Tomam chá, café, refrigerantes, comem
docinhos e salgados, empadinhas, pastéis, negrinhos, como se faz numa festa de
aniversário de criança. Só que a festa deles é todos os dias, nas sessões das
turmas ou do Tribunal Pleno.
Mas, prestem bem a atenção. Primeiro
eles ficam sentados, debatendo, discutindo, ou tirando a sesta durante a
sessão. Depois, caem de boca nas guloseimas, ficam contando anedotas, tratam de
assuntos variados e só não falam da bunda das mulheres, nem ficam trovando
sobre suas aventuras sexuais, por respeito à Carmen Lúcia e à Rosa Weber, que
embora saibam tudo de sexo, desde a ”sucosa ars ligurindi” ao “coitus analis”, são
tratadas como virgens.
Ali, na hora do recreio, passam mais
de uma hora. E sabem para quê? A fim de darem tempo para uma fugida até o banheiro,
proporcionando a saída de flatos e perdigotos, depois de toda aquela comilança.
É assim que funciona. E às vezes, nem
funciona. Com tanta gente no plenário, ministros, funcionários, advogados,
estudantes de direito e curiosos em geral, ninguém vai saber quem é que largou
aquele pum fedorento.
Então, de pum em pum, porque os
perdigotos são transformados em pum, eles vão decidindo sobre a vida das
pessoas, arrotando sabedoria em Direito quando, na verdade, o arroto provocado
pela coca-cola foi transformado em flatulência que se esvai por debaixo da
toga.
É desse jeito, meus amigos, é entre
flatos e perdigotos que se decide sobre a liberdade do ser humano. Quer dizer,
é assim que os símios humanos decidem sobre a vida de seus semelhantes: com a
cabeça cheia de conhecimentos jurídicos e frases decoradas em latim, e a
barriga abarrotada de gazes.
Um comentário:
Há sempre o momento, na vida de qualquer pessoa, do despertar de sua face primeira. Esse momento, do "ser ele mesmo" fica debaixo da toga do comportamento socialmente aceitável, à espreita de uma oportunidade de se soltar. Sim, como um "pum" reprimido. Um momento demasiado humano, eu diria, inadestrado, sem modos e desmedido.
Enquanto, nas entrelinhas de nossos destinos, os flatos e perdigotos fixarem localização na geografia dos dotados de conhecimento e poder de decisão, precisamente em seus países baixos, tá beleza. Problema pinacular mesmo, são os flatos se formarem na cabeça. Mal sinal: bolo fecal. Estes, na cabeça, de Cabeças, quando do bater o martelo, podem resultar em dejetos sobre as nossas!
Um abraço, amigo, adorei a pauta!
Truilio.
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