OS RECADOS DO CELSO DE MELLO
João Eichbaum
Celso de Mello é o ministro mais antigo do Supremo Tribunal Federal. Tem qualidades: conhece bem o Direito, exibe grande cultura, é dono de excelente dicção, domina vasto vocabulário e sabe exprimir seu pensamento com clareza.
Talvez por saber que é dono de tantas e tão importantes qualidades, ele se aproveita para mostrá-las em qualquer ocasião, provando que está muitos pontos acima dos outros ministros.
Na sessão de ontem foi a figura central: exibiu todos os dotes acima mencionados, numa diatribe muito bem articulada contra a corrupção. Apontou todos seus males, os estragos que ela causa nas pessoas, nas instituições e na imagem do país.
E mandou dois recados, que podem tirar o sono de muita gente. Num deles aludiu às “altas esferas do Poder” como fonte dessa corrupção que foi encontrar desaguadouro num processo criminal. Não disse nomes, é claro. Mas, para quem conhece a política brasileira, e para quem sabe que o PT está há muitos anos no poder, representado pelo Lula, não fica difícil entender para quem foi dirigido o recado.
Em outras palavras, Celso de Mello deu razão à tese de Luiz Francisco Corrêa Barbosa, defensor de Roberto Jefferson: o primeiro e grande interessado em deitar raízes no poder era o Lula. Para isso, comprou aliados.
Nesse item, Celso de Mello foi quase explícito, mencionando várias vezes que a venalidade dos parlamentares tinha em mira a sustentação dos projetos do Executivo.
Além dessa catilinária, ele tocou num ponto que interessa a milhões de brasileiros: até que ponto terão validade as leis engendradas nessa podridão?
O relator Joaquim Barbosa já fora explícito, mencionando as reformas da Previdência e a Tributária como objetivos do procedimento criminoso.
Agora, Celso de Mello acende uma luz no fim do túnel de muitas esperanças: as reformas do Lula poderão dar com os burros n’água, e milhões de pessoas poderão se aposentar como nos velhos tempos, por exemplo.
É uma possibilidade remota, naturalmente. Mas, partindo de quem partiu, vale como sinal, principalmente porque o pensamento do ministro se assenta na tese da “inconstitucionalidade formal”. Quer dizer, não se trata de mero palpite.
Não há diatribe sem desabafo. O juiz deve julgar e não desabafar. Mas, o Celso de Mello está perdoado. Se pecou, foi por excesso de zelo.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
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Um comentário:
Compartilho da admiração do cronista: Celso de Melo paira be acima dos demais ministros em qualidades como erudição, clareza e firmeza. Pena que o implemento da idade o expulsará do STF em breve.
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