JUIZ BOM SÓ FALA NOS AUTOS
João Eichbaum
A Carmen Lúcia,
ministra do STF, com aquela cara de alma do outro mundo, que combina muito bem
com sua voz cavernosa de quem fala de dentro do túmulo, traz o seu votinho
escrito e gosta também de fazer discursinhos, como se estivesse dando aula de
Direito.
Outro dia,
sobre o caso dos autos – estou falando do mensalão, naturalmente – ela deu
alguns pitacos, mas aproveitou a deixa para fazer discurso contra a corrupção.
Quinta feira
última, depois de emitir seu juízo no processo, começou a discursar sobre a
importância do voto nas eleições municipais, dizendo mais ou menos isso: “este
é um julgamento de direito penal em que nós julgamos pessoas que eventualmente
tenham errado e contrariado o direito penal. Isso não significa, principalmente
para os jovens, que a política seja necessariamente corrupta.” E, continuando o
discurso, “conclamou os eleitores, principalmente os jovens, para que não
ficassem desacreditados com a política a dez dias do primeiro turno das
eleições municipais” – diz uma notícia de jornal.
Há um velho
ditado que diz: “juiz só fala nos autos”. E eu acrescento: e do que consta nos
autos.
O juiz que fala
de coisas que não dizem respeito especificamente ao processo sobre o qual ele
tem que se pronunciar, o juiz que, ao invés de julgar, fica dando lições de
moral, ou metendo o bico onde não foi chamado, corre o sério riso de dizer
besteiras.
Pois foi o que
aconteceu com a Carmen Lúcia, que acabou passando um trote na rapaziada. Os
mesmos jornais que noticiaram sua exortação aos jovens, estamparam manchetes
que mexem com os brios de qualquer um, falando sobre a falcatrua agora perpetrada
pelos senadores: o débito que eles têm com a Receita Federal vai parar na nossa
conta.
Para quem não
sabe, explico: os senadores não pagaram imposto de renda sobre o décimo quarto
e o décimo quinto salários – repito, para vocês não imaginarem que estou
enganado, décimo quarto e décimo quinto salários. Então, alegando que não têm
dinheiro para pagar a dívida, resolveram botar no nosso, direto e sem lubrificante.
O Senado vai pagar para eles, “os pobrezinhos”, que ganham horas extras, verbas
de gabinete, viagens, moradia, quinze salários e muito mais, e não têm com que
saldar o débito...
Senado uma ova,
quem vai pagar, repito, seremos nós, porque somos nós que sustentamos essa cáfila
de desavergonhados.
E a Carmen Lúcia
vem, com aquela cara de morta, pedir crédito para os políticos. Perdeu uma
ótima oportunidade de ficar quieta, que seria a maneira de esconder sua falta
de bom senso, o único sinal perceptível de inteligência, na sociedade dos símios
humanos.
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