segunda-feira, 1 de outubro de 2012


 JUIZ BOM SÓ FALA NOS AUTOS

João Eichbaum

A Carmen Lúcia, ministra do STF, com aquela cara de alma do outro mundo, que combina muito bem com sua voz cavernosa de quem fala de dentro do túmulo, traz o seu votinho escrito e gosta também de fazer discursinhos, como se estivesse dando aula de Direito.
Outro dia, sobre o caso dos autos – estou falando do mensalão, naturalmente – ela deu alguns pitacos, mas aproveitou a deixa para fazer discurso contra a corrupção.
Quinta feira última, depois de emitir seu juízo no processo, começou a discursar sobre a importância do voto nas eleições municipais, dizendo mais ou menos isso: “este é um julgamento de direito penal em que nós julgamos pessoas que eventualmente tenham errado e contrariado o direito penal. Isso não significa, principalmente para os jovens, que a política seja necessariamente corrupta.” E, continuando o discurso, “conclamou os eleitores, principalmente os jovens, para que não ficassem desacreditados com a política a dez dias do primeiro turno das eleições municipais” – diz uma notícia de jornal.
Há um velho ditado que diz: “juiz só fala nos autos”. E eu acrescento: e do que consta nos autos.
O juiz que fala de coisas que não dizem respeito especificamente ao processo sobre o qual ele tem que se pronunciar, o juiz que, ao invés de julgar, fica dando lições de moral, ou metendo o bico onde não foi chamado, corre o sério riso de dizer besteiras.
Pois foi o que aconteceu com a Carmen Lúcia, que acabou passando um trote na rapaziada. Os mesmos jornais que noticiaram sua exortação aos jovens, estamparam manchetes que mexem com os brios de qualquer um, falando sobre a falcatrua agora perpetrada pelos senadores: o débito que eles têm com a Receita Federal vai parar na nossa conta.
Para quem não sabe, explico: os senadores não pagaram imposto de renda sobre o décimo quarto e o décimo quinto salários – repito, para vocês não imaginarem que estou enganado, décimo quarto e décimo quinto salários. Então, alegando que não têm dinheiro para pagar a dívida, resolveram botar no nosso, direto e sem lubrificante. O Senado vai pagar para eles, “os pobrezinhos”, que ganham horas extras, verbas de gabinete, viagens, moradia, quinze salários e muito mais, e não têm com que saldar o débito...
Senado uma ova, quem vai pagar, repito, seremos nós, porque somos nós que sustentamos essa cáfila de desavergonhados.
E a Carmen Lúcia vem, com aquela cara de morta, pedir crédito para os políticos. Perdeu uma ótima oportunidade de ficar quieta, que seria a maneira de esconder sua falta de bom senso, o único sinal perceptível de inteligência, na sociedade dos símios humanos.

Nenhum comentário: