OS SUBCIDADÃOS
João Eichbaum
Tanto os réus até agora condenados no
processo do “mensalão”, como seus advogados, estão chiando. Agora, e só agora,
estão se dando conta de que não haverá “segunda instância”. O julgamento do
Supremo será único, será o juízo de todas as instâncias. Eles não terão o
privilégio que teve o assassino Cesare Bapttisti, que está livre porque teve
uma “instância” superior à do Supremo: a “instância” do Lula.
Então já estão cogitando de “recorrer”
para Organismos Internacionais, esquecendo-se de que são súditos de um Estado
soberano e independente, que exerce todo o poder dentro de seu território.
Se já não é bom um juízo único, que não
combina com o conceito de democracia, imagine-se um juízo composto por
figurinhas que jamais foram juízes na vida, que não sabem que a sentença é um
silogismo, que ignoram preceitos básicos de exegese.
Já disse isso outro dia, mas não custa
repetir, em outras palavras: ser a última instância é bem mais fácil do que ser
a primeira. O juiz de carreira quando se debruça sobre um processo (falo
teoricamente, porque na prática, hoje em dia quem faz as sentenças são os
assessores, os secretários, os estagiários, ou até a senhora do cafezinho, se
estiver dando sopa e cursando Direito) o juiz de primeira instância não tem com
quem discutir, com quem trocar ideias. Não tem quem lhe aponte os erros, as
distorções, os escorregões nos conceitos. É só ele e o processo, e tem que se
virar, tem que quebrar a cabeça. Teoricamente, repito.
Mas, seja como for, a idéia inicial, certa ou
errada, mesmo que tenha sido escrita pela servente, será lançada no processo,
vai haver recurso, ambas as partes vão se pronunciar, apontando erros e
acertos, em alguns casos o Ministério Público também dará seus pitacos. Na
segunda instância serão três magistrados, além do Ministério Público, que terão
sob seus olhos todas as ideias já lançadas e debatidas na primeira instância.
Eventualmente o processo irá para o Superior Tribunal de Justiça, ou para o
Supremo, ou para os dois.
Então, são vários crivos, e várias
cabeças, muitas burrices e algumas inteligências, e os fatos e o Direito
mostrarão várias faces. De modo que, na última instância, tudo será mais fácil.
Então se compreende a insegurança e o
temor dos réus do mensalão: eles não terão as mesmas oportunidades de que
desfrutam os demais cidadãos brasileiros.
Mas, só agora viram isso? Onde estão os
juristas desta nação, que permitiram essa monstruosidade? Se, por dá cá aquela
palha se faz uma reforma casuística da Constituição, por que nunca alguém se
deu conta de que os ministros do Supremo não são aquilo que todo mundo pensa
que eles são?
Haverá juízo único, sim. Porque não
existem juristas de escol neste país. Porque, “sob a proteção de Deus” os constituintes
se preocuparam mais com as passagens gratuitas para os velhinhos, do que com a
extensão do princípio da isonomia à plenitude do direito de defesa.
Um comentário:
Subcidadãos...
Até aqui, esse privilégio do juízo único era até favorável, nunca resultava em condenação. As coisas mudarám, Zé.Mudaram? Veremos. O pessoal é gente fina demais. Não os vejo nas grades. De forma alguma.
Postar um comentário