O
DUDA MUDOU O SUPREMO
João Eichbaum
O Duda Mendonça tem muito dinheiro. Tem prestígio e
dinheiro. Ah, sim, e muita capacidade profissional também. Ele consegue
milagres na transformação de imagens, sabe fazer a cabeça das pessoas.
Vocês se lembram daquele conto de fadas, aquele da
moça que beijou um sapo e o transformou em príncipe?
Pois o Duda Mendonça é, mais ou menos a mesma coisa,
tem poderes semelhantes. Ele conseguiu transformar um batráquio qualquer, um
sapo, numa das figuras que mais imantam o populacho deste país.
Agora ele foi mais longe. Chegou com seu poder de
transformação no Supremo Tribunal Federal.
Em menos de uma semana, o Supremo Tribunal Federal
mudou.
Assim, ó. Para condenar o José Dirceu, a maioria dos
ministros dispensou as provas e o Código de Processo Penal. O pessoal foi
buscar uma teoria alemã, chamada “teoria do domínio do fato”, para condenar o
cara, já que não havia jeito de condená-lo por força das provas do processo.
Já disse isso uma vez, mas não me custa repetir: a
teoria do domínio do fato nada tem a ver com provas para condenar ou absolver.
Mas foi dela que os ministros se valeram para condenar o Zé Dirceu.
Na vez de julgarem o Duda Mendonça, a coisa foi
diferente. Ninguém lembrou da “teoria do domínio do fato”. O Duda Mendonça foi
absolvido porque não havia provas contra ele. Os onze milhões que foram
mandados para o exterior na conta que ele abriu especialmente para isso, embora
tivesse outras contas lá fora, são merrecas (e acho que alguém até pensou no
“de minimis não curat pretor”, a teoria do crime de bagatela, inventada pelo
mesmo inventor da “teoria do domínio do fato”) que não poderiam lhe despertar a
suspeita de que era dinheiro sujo.
Para os inocentes, tudo é inocente, pensaram os
ministros, certamente. Mesmo lidando com corruptos, o Duda Mendonça é tão inocente, que se
torna imune à corrupção.
Só ontem os
ministros se lembraram de que é necessária a prova de culpa, a prova do
elemento subjetivo, para que alguém seja condenado. E mais, nessa parte do
julgamento, eles descobriram uma coisa que até então não lhes tinha
chamado a atenção: a deficiência da denúncia.
Foi milagre operado pelo Duda Mendonça. Somente um cara
como ele, que tem muito dinheiro e sabe transformar sapos em qualquer coisa
poderia conseguir esse milagre: só a fidelidade “ao devido processo legal” pode
assegurar a preservação dos direitos fundamentais do ser humano.
Um comentário:
O SAPO VIROU PRÍNCIPE
Leio o comentário sobre o Duda Mendonça e fico abismado. Tive um choque ao saber dos votos a respeito dele, em pleno Jornal Nacional, e fiquei lamentando não ter acompanhado o julgamento ao vivo. Como entender isso, a inflexão na avaliação das provas, nos critérios, para dizer o mínimo, em tão provectos julgadores. Magia do Duda, só pode ser. É a explicação que passamos a ter.
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