O TELHADO DE VIDRO DO STF
João Eichbaum
Sabe o Luiz Fux? Isso.
É ele mesmo, aquele que - dito pela boca cheia de dentes do Gilberto Carvalho -
adquiriu a toga de ministro do Supremo Tribunal Federal em troca de um parecer
antecipado sobre o processo do mensalão.
Pensando que o dito Luiz Fux, pelo que
prometia, fazia o tipo deles, o José Dirceu, o próprio Carvalho e a
companheirada toda caíram de boca na interjeição: “esse é o cara!”.
Dias atrás, deslumbrado
com os farfalhos da toga e a cabeça ocupada pela grandeza da própria
inteligência, o Fux concedeu liminar, impedindo o exame dos vetos da Dilma Rousseff à lei dos
“royalties”.
O fundamento dessa liminar teria sido o
atropelo da ordem de antiguidade: o Congresso não poderia examinar os vetos daquela
lei da distribuição de leite da Mamãe Grande, sem antes se debruçar sobre vetos
mais antigos. Seriam mais de três mil vetos a serem examinados, antes da
chegada do Papai Noel.
O Congresso até que
ensaiou um exame em bloco desses vetos, mas tropeçou na própria incompetência.
Então o exame do veto
da lei dos “royalties” ficou para depois do fim do mundo, gerando sentimento de
frustração em alguns congressistas. Houve quem acusasse o Fux de parcial,
porque, sendo carioca, estaria favorecendo o Rio de Janeiro. Houve quem
encarasse a decisão judicial como ingerência indevida no parlamento.
O senador Pedro Simon,
que está entalado no Congresso desde o século passado e sujeito a virar múmia,
saiu pichando no painel do Senado a seguinte frase: "Se
o STF acha que o Congresso deve seguir a ordem cronológica, pode dar exemplo
com seus mais de 60 mil processos em estoque."
E assim é.
O Supremo Tribunal Federal pode vestir a cueca mais cara do mundo, que não terá
moral para cobrar do Legislativo, ou de quem quer que seja, o cumprimento do
dever. Com seu telhado de vidro, não podia ter havido alvo melhor para a
pedrada do Pedro.
Não só o
STF, mas o Judiciário, como um todo, está devendo para a nação. Há um
engarrafamento fenomenal de processos em todas as instâncias. Já não há
sentenças transitadas em julgado. A prestação jurisdicional virou um verdadeiro
“quebra-galho” através de liminares e antecipações de tutela.
O grosso
dos deslindes está entregue aos estagiários, aos auxiliares, aos secretários,
aos assessores, aos CCs em geral, que não conseguem superar o azáfama do “copia
e cola”.
E é nesse
faz-de-conta que vivemos: faz de conta que temos Legislativo, faz de conta que
temos Justiça. Só não é faz-de-conta a conta que a Receita Federal nos
apresenta, para pagar essa farsa.
Um comentário:
Realmente, tem razão cronista. Obrigam-nos a viver num mundo de faz de conta de que temos legislativo, executivo e judiciário eficientes.
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