João Eichbaum
Supreendentemente está em cartaz há três semanas consecutivas nos cinemas de Porto Alegre o documentário “Walachai”, de Regina Zilles.
Vi e gostei.
Walachai é o nome de um distrito rural de Morro Reuter, de colonização alemã. Regina Zilles mostra como vive aquele povo, principalmente os autênticos colonos, que tiram seu sustento exclusivamente da terra, utilizando-se dos mesmos métodos de seus pais e avós, com toscos arados, enxadas e outros instrumentos primários.
Trata-se de um tema, muito bem abordado, de antropologia social.
Duas coisas chamam a atenção: o sotaque fortemente carregado daqueles que falam português e a falta total de intimidade com a língua portuguesa daqueles que só sabem se expressar em dialeto alemão.
É claro que, em se tratando de antropologia social, não se pode deixar de lado a história. E foi o que fizeram dois professores , quando entrevistados. Sem dissimular sua indignação. ambos criticaram acerbamente o ato do governo de Getúlio Vargas que, da noite para o dia, proibiu conversas em alemão.
Naquele tempo, no começo dos anos quarenta, eram pouquíssimas as pessoas, no então longínquo e perdido distrito, que sabiam se expressar em português. A quase totalidade das crianças só tomava contato com o idioma português quando ingressava na escola. Era necessário então que o professor se comunicasse com os alunos, primeiramente, em alemão, para lhes passar as noções básicas de português. A proibição do único idioma que as crianças entendiam tornava impossível qualquer tipo de comunicação entre os alunos e o professor.
Pois, Getúlio Vargas não só proibiu que se falasse alemão, como impôs pena de prisão a quem o fizesse.
Pode-se imaginar o caos que se estabeleceu na vida das pessoas, a reviravolta que transtornou o dia a dia dos colonos de Walachai. O medo as fazia fechar a boca, diante de estranhos. Os professores estavam perdidos numa encruzilhada perversa: ou nada ensinar, ou ir para a cadeia.
O que o ditador Getúlio Vargas impôs foi a expressão sem alma, proibindo que as pessoas falassem, se comunicassem, convivessem.
A que ponto chega a burrice, a ignorância, a bestialidade dos políticos! Além de mentirosos, porque vivem prometendo o que sabem que não podem cumprir, são burros, não enxergam um palmo diante do nariz. E depois, quando morrem, são considerados estadistas, heróis, têm nome de ruas, cidades, estradas e monumentos. Ainda bem que esses monumentos são transformados em latrinas dos pássaros e as cabeças dos políticos passam a mostrar para todo mundo o que sempre tiveram na cabeça: merda.
Muito mais inteligente do que Getúlio Vargas foi aquele professor de Walachai que, numa frase magistral colhida no documentário, ensinou a todos os políticos: “Não se aprende uma língua por decreto”.
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