terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O QUE JOSÉ J. CAMARGO NÃO QUIS DIZER

João Eichbaum

Não sei como classificar José J. Camargo no mundo da literatura brasileira. Para mim, quem escreve bem é escritor. Dele só tenho lido artigos, ou crônicas, como queiram.
Em qualquer das categorias, ele é o máximo. Sendo médico, não teve em seu currículo universitário nenhuma especialização literária, e nem precisou de diploma para escrever melhor do que quase todos os jornalistas gaúchos. Ele escreve porque tem competência, talento.
“Poeta nascitur”, já diziam os romanos. E o escritor, antes de qualquer coisa, é um poeta.
Seja como for, seja em que categoria se possa enquadrá-lo, J. J. Camargo é o melhor do RGS. Dos que estão na mídia, é o que melhor escreve. Escreve com simplicidade, sem floreios, com domínio do idioma, com clareza. E, mais do que tudo, com elegância.
Dos cronistas de Zero Hora - que só escrevem abobrinhas, uns falando sobre futebol e outros perdendo tempo com política e banalidades semelhantes - o único que ombreia com J.J. Camargo, em clareza, riqueza de vocabulário e elegância, é Percival Puggina.
Por tudo isso, como não poderia deixar de ser, sou fã do J.J. Camargo, esse gaúcho da Vacaria.
Só tenho um senão com relação à crônica de sábado último, em que ele aborda o sofrimento de uma criança, vítima de fibrose cística. Ao indagar a que se deve o sofrimento de uma criança, ele apenas coloca a pergunta no ar, mas não se atreve a respondê-la. Apenas refere uma corrente, segundo a qual são indecifráveis os “desígnios” de Deus.
J. J. Camargo não teve a coragem de enfrentar o problema. E isso me pareceu por uma única razão: ele não quer se incompatibilizar com os crentes, com os deístas. Ele é dessas pessoas que gostam de ficar de bem com todo o mundo.
Com sua inteligência, com os conhecimentos profundos que ele tem sobre a anatomia animal, bem que poderia deixar o deus dos cristãos fora dessa.
Sendo uma das mais proeminentes figuras na área de transplantes de pulmão, no país e no mundo, é evidente que J.J.Camargo conhece perfeitamente o funcionamento da fisiologia animal.
A natureza não é perfeita. Se fosse perfeita só produziria rosas, ao invés de urtigas. Se fosse perfeita, todas as criaturas humanas seriam belas. Não haveria, por exemplo, mulheres diferentes, com uma diferença gritante, como a que existe entre a Gisele Bündchen e a Dilma Rousseff, entre a Angela Merkel e a Angelina Jolie, só para ficar nessas aí. Existem os feios e os bonitos, os grandalhões e os baixinhos, os gordos e os magros, e por aí vai. Tudo, porque a natureza não age com perfeição e, assim como faz criaturas perfeitas, as faz com defeitos.
O que o J. Camargo não disse é que somos animais e que nossa vida depende dos humores da natureza. Alguns – até se pode dizer a maioria – têm sua fisiologia dentro das constantes, que podemos chamar leis, dessa natureza. Outras – minoria – já vêm com defeitos de fábrica e o único “recall” que vale para eles é a doença.
Deus nenhum criaria entes defeituosos ou fadados ao sofrimento. Deus nenhum iria querer o sofrimento de inocentes. Se assim o quisessem, eles não seriam deuses, porque o sadismo é incompatível com o conceito de divindade.
Somos animais, dependemos das regras da natureza e de suas exceções, pois, afinal, não há regras sem exceções.
Sorte nossa que a inteligência do homem consegue consertar algumas exceções, alguns erros da natureza.
E para isso a natureza cria seres como José J. Camargo. Que sabe das coisas, mas prefere silenciar, às vezes.

Um comentário:

Ana Quézia! disse...

O fato de o corpo humano processar tantas informações concomitantes, apresentar vontades, sentimentos e ser coeso comprova a existência óbvia de um Criador que detêm em sua pessoa toda a sabedoria possível.
Os defeitos existem não por que o Criador tenha desejado. Porque os defeitos exitem, então? Vamos além: porque o sofrimento existe?
Todo ser humano tenta, de alguma forma, fugir do sofrimento. Exceto um, e com relação a esse posso afirmar: sou fã. Esse ser humano não evitou nenhuma forma de sofrimento, tanto físico quanto emocional. Mas, porque sofrer tanto? Muitos defendem o sofrer por amor. E quando muito amamos, inevitavelmente, sofremos por causa desse amor, pois estamos dispostos a dar nossa própria vida em favor do outro. Esse de quem sou fã é Jesus Cristo. Sofreu sem precisar sofrer, mas escolheu um caminho árduo por amor. Para que mesmo os que sofrem de qualquer debilidade ou deficiência física, possam ter no coração que a prova mais linda e perfeita de amor que alguém poderia receber foi dada pelo Criador.
Muito pior do que ter defeitos no corpo é ter um coração endurecido e que não conhece o amor do próprio Criador.