AINDA FRANCISCO
João Eichbaum
Duvido que alguém, neste Brasil,
tenha dado uma entrevista melhor, ou igual à de Francisco, o Papa.
Todos se abriram para o
argentino, torcedor do San Lorenzo de Almagro. Todos: cristãos em geral,
católicos, judeus, e até ateus.
Só ficou fora a turma do Edir
Macedo, porque estelionatário nenhum daria a mão à palmatória. Ah, sim, e os
muçulmanos, que não estão nem aí para a humanidade.
Francisco foi sereno, sincero.
Não se irritou, não se perturbou, não ficou devendo. Respondeu a tudo o que lhe
foi perguntado, na hora, com certeza, com domínio da matéria que lhe estava
sendo apresentada.
Jorge Bergoglio é um homem
inteligente. Um homem que sabe que, antes de tudo, ele é um homem, uma criatura
capaz de fraquejar. E por ter demonstrado abertaamente, por não ter negado que
é uma criatura capaz de fraquejar, Francisco, ou Jorge, como queiram, se
mostrou superior, se mostrou acima não só da média, mas de todo o ser humano
que, até hoje, apareceu na mídia.
A força de Francisco, o papa, ou
de Jorge Bergoglio, o torcedor do San Lorenzo, está na humildade. Está no
reconhecimento de que ele, como homem, é um ser limitado por todas as fraquezas
que impedem o ser humano de se equiparar
aos deuses. A partir desse reconhecimento foi que ele falou. E respondeu a tudo
o que lhe foi perguntado, com a sinceridade de quem é humilde. Teve uma palavra
de piedade até para com os pederastas.
Não sei se Jesus Cristo existiu.
Mas, se existiu, ele não serve de paradigma, de modelo. Ele, segundo as
escrituras, pregava, fazia sermões, bancava o moralista. Mas, na prática, nem
sempre mostrou humildade. Era um cara raivoso: rogou praga contra uma figueira,
por estar ela sem frutos. Era um cara que não amava pai e mãe. Jamais falou em
José, que engoliu a duvidosa paternidade, e quando se dirigiu a Maria, o Cristo o fez em
tom pouco amistoso: “mulher, a minha hora ainda não chegou”. Foi um cara
temperamental: pegou um chicote e expulsou os pobres camelôs do templo.
Olha, gente, ser humano por ser
humano, sou mais o Francisco. Jesus Cristo era filho de Javé, tinha por quem
puxar raivoso temperamental e vingativo.
Francisco, quer dizer, Jorge, foi filho de pais normais que transaram, geraram
um filho e o ensinaram a ser humilde.
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