terça-feira, 13 de agosto de 2013

COMO SEMPRE, O ANIMAL HUMANO


João Eichbaum




Em São Paulo, foi morta a tiros uma policial, seu marido, também policial, a mãe e uma tia da policial, que moravam numa casa ao lado. Também apareceu morto, com um revóver na mão, o filho único do casal, um menino de treze anos.
O revólver na mão de menino levou as investigações à conclusão mais fácil, mais cômoda: ele matou o pai, a mãe, a avó, a tia avó, e depois deu fim à própria vida. Pronto, elementar, meu caro Watson. A essa versão acrescentam as investigações da polícia civil o seguinte detalhe: o menino, cometido o crime, teria ido para a escola, utilizando o carro do pai, e só no retorno para casa ter-se-ia suicidado.
Mas há outra história transitando pelos corredores da repartição policial e pelas páginas dos jornais. A mãe do menino suspeito da chacina teria delatado colegas, policiais militares, lhes atribuindo ligações com traficantes e outros criminosos. O crime contra a família da mulher seria vingança, servindo também como queima de arquivo.
Em Goiás, outro crime produz manchetes e comove a população. Uma bela jovem de dezoito anos, universitária, estudante da Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal de Goiás, foi morta com sete facadas, desferidas por outras jovens, uma de dezessete e outra de dezoito anos. O motivo do crime seria a paixão que a moça de dezessete anos teria pela vítima, sem correspondência.
Que motivos teria um menino de treze anos, para praticar friamente uma chacina? Que ódio intenso o levaria a matar pai, mãe, avó e tia, e depois dar cabo da própria vida?
Não, não há lógica nenhuma em tudo isso. Seus familiares negam que o menino tivesse condições ou motivos para tamanha crueldade. Só uma estranha doença mental, desconhecida dentro dos padrões normais da psiquiatria poderia desencadear a tragédia.
Restaria ainda a versão da vingança dos policiais dedados, para explicar a violência.
Mas, seja como for, doença, vingança ou paixão, como no caso das meninas de Goiás, o que se salienta, em ambos os casos, é a violência humana. Se nem uma doença consegue reprimir a violência do primata humano, como o conseguiriam o ódio e a paixão?
Não será a primeira, nem a última vez - assim espero - que digo isso: a violência é ínsita no animal humano e por isso lhe rouba a dignidade que a filosofia e algumas religiões lhe querem creditar. O homem já nasce atrelado à violência, rasgando sua mãe, ou exigindo que a rasguem, para que ele possa viver. Ele só permite que a moral social ou religiosa lhe anestesie essa propensão natural para a violência, graças à docilidade que se segue à oportunidade que lhe deram para viver: ta bom, já que me deram chance, me entrego às regras do jogo.
Mas seja o que for que roube o efeito dessa anestesia, ele retoma o estado natural. E aí comete qualquer barbaridade: desvencilhado da moral, ele mata. Ou se torna político.



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