quarta-feira, 7 de agosto de 2013

 ORGASMO RETARDADO
João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

Quarta-feira, dia 31 de julho, foi o dia mundial do orgasmo.
Tem gente que não sabe o que é isso. Quer porque, fora dos deveres epitalâmicos, os mandamentos de Deus o proíbam. Quer porque os votos de castidade sejam a garantia de que, depois da morte, rola coisa melhor que sexo. Quer porque o parceiro não seja lá essas coisas, quer por pura birra da natureza, tem gente que não sabe o que é isso. Tem gente que nunca sentiu a explosão da química que se alastra pelo corpo inteiro, passando em "teipe" a desimportância da vida e da morte, naquele momento único, que só vai se repetir, sabe Deus quando.
É, tem gente  que não sabe o que é subir ao céu de corpo e alma, sem sair da cama, e sem ser profeta, nem virgem. Tem muita gente que nunca precisou passar pelo constrangimento de ter que explicar para a vizinha que "não, ta tudo bem, eu só tava sonhando". Tem gente que até hoje só gemeu de dor, grunhiu sóde raiva e suspirou só de tristeza.
Na noite de 31 de julho passado, não se ouviram desatinos se decompondo em “ai,ai,ai e ui,ui,ui”, escapulindo por indiscretas janelas e desassossegando os insones, nas ruas de Santa Maria. Não foi preciso chamar polícia, nem bombeiros, para botar ordem nos apartamentos.
Em compensação, no dia seguinte, a praça se encheu com buliçosos gritinhos histéricos e sons acres de revolta e indignação. Estrondos desafinados de mal-aventuranças se espalharam por entre as ramagens da praça centenária e mal chegaram ao coreto, exatamente na contramão da sinfonia abemolada do orgasmo.
Eram os descontentes com a vida, com a própria vida, engendrando um réu que lhes servisse como objeto de vingança, um Judas que fosse o responsável pelas armadilhas que o destino lhes colocou na vida. Era a turma dos revoltados, dos que acham que a vida só melhora se tirarem certas pessoas do seu caminho, dos que pensam que a vida é privilégio deles, que a ordem não importa, que a vida dos outros não pode ser melhor que a deles, que a felicidade geral da nação e do povo santamariense em particular passa pelo umbigo deles. Queriam a "responsabilização" do prefeito pelo incêndio da Kiss
Há muita diferença entre uma passeata ordeira e silenciosa, reunindo um milhão de pessoas, que saem à rua pleiteando o que todos necessitam, saúde, segurança, educação e transporte, e um grupelho agarrado às próprias insatisfações, enroscado no próprio ego, como se em torno dele girassem todas as questões do universo, e exigindo o que só pode ser exigido pela comunidade como um todo.
Só os desassistidos de bom senso, os desprovidos de “semancol”, os empanturrados de egoísmo, os comunistas do PSol e de outros partidos do falecido comunismo, acham que podem mudar tudo aquilo que foi estabelecido pela ordem, pelas normas de convivência, pela necessidade de harmonia em todos os grupos sociais. Só gente desse tipo pensa que as instituições são coisa descartável, como camisinha usada, chinelo de dedo sem tira, chiclete mascado.
Não é só a química da testosterona que provoca prazer. A vingança também é uma espécie de gozo, que desata eletricidade semelhante à do orgasmo. E, quem não alcança orgasmo por outro modo, apela para o substitutivo, a vingança. Afinal, ninguém vive sem prazer. E qualquer prazer diverte os insatisfeitos, a começar pela  desgraça dos outros.
Por isso, teve gente que comemorou o dia do orgasmo 24 horas depois. Sem a ressaca do sexo.




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