quinta-feira, 26 de setembro de 2013

NÃO HÁ SÓ BANDIDOS DE TOGA

João Eichbaum

Vocês já ouviram falar de Tatuí? Alguma vez pensaram em ir a Tatuí?
Pois Tatuí, que fica a 131 Km de São Paulo é conhecida como "capital da música", graças ao Conservatório Dramático e Musical Doutor Carlos de Campos, a maior escola de música da América Latina e mais tradicional do Brasil.
A partir de hoje, muita gente há de ficar sabendo que lá nasceu Celso de Mello, um ex- promotor de Justiça, que se tornou ministro do Supremo Tribunal Federal.
É o seguinte. Celso de Mello, que é humano, não agüentou e teve que desabafar. Mas, para isso, não procurou a Folha, nem o Estadão, nem a Veja. Foi desabafar com um velho amigo, José Reiner Fernandes, editor do “Jornal Integração”, de Tatuí.
A Folha, através da Mônica Bergamo, é que correu atrás da entrevista e a publicou.
"Foi algo incomum. Eu honestamente, em 45 anos de atuação na área jurídica, como membro do Ministério Público e juiz do STF, nunca presenciei um comportamento tão ostensivo dos meios de comunicação sociais buscando, na verdade, pressionar e virtualmente subjugar a consciência de um juiz." – desabafou o ministro.
E assim foi. Não preciso repetir aqui o que todo mundo sabe. A imprensa do Brasil em peso. Não conheço uma exceção sequer. Grandes e pequenos, imensos jornais e folhas avulsas, todos empurraram Celso de Mello contra a parede, exigindo que ele julgasse como o Barbosa, o Marco Aurélio, a Carmen Lúcia, o Fux e o Gilmar Mendes.
E fizeram de tudo para que isso acontecesse. Foi a mais vergonhosa pressão que se fez sobre alguém neste país. Inclusive propagaram fatos desabonadores, como aquele que um ex- ministro da Justiça divulgou, chamando o Celso de juiz de merda, porque teria julgado contra o Sarney, só para se contrapor às noticias da imprensa de que ele votaria a favor.
Pois tenho Celso de Mello como herói. Tanto nesse caso do julgamento do Sarney, como no dos embargos infringentes. Tanto num, como noutro, ele colocou sua independência acima do poder da imprensa, acima de todas as pressões. Em ambos os casos remou contra a maré, subiu o rio na contramão da cascata. Mas, em nenhum deles praticou injustiça. Seu voto não prejudicou o Sarney, que foi, infelizmente, beneficiado pelos outros ministros. Causou decepção, sim, aos justiceiros de plantão, no caso dos réus do mensalão. Mas, decepção nunca foi sinônimo de injustiça.
Celso de Mello foi homem, teve colhão. Foi sábio, teve inteligência para tratar o Direito como ciência e não como instrumento de interesses e sentimentos.
Pode-se discordar de seu voto, mas duvido que alguém consiga derrubar o fortaleza científica por ele construída.
Felizmente, não temos neste Brasil apenas bandidos de toga. Temos também heróis. E Celso de Mello é um deles. Mirem-se nesse exemplo, senhores togados.




Um comentário:

Gigi disse...

Muito boa crônica. Um cronista independente valorizando um magistrado independente.