segunda-feira, 30 de setembro de 2013

EM  QUALQUER PARTE DO MUNDO

João Eichbaum

Antes de serem juízes, os magistrados são homens. E, como homens,  podem ser sábios ou ignorantes, dóceis ou perversos, responsáveis ou indolentes, humildes ou vaidosos – para enumerar apenas algumas das qualidades inerentes ao primata convertido em ser humano.
Não sei como é que se procede à seleção para a magistratura na Espanha. Mas não deve ser muito diferente de como se faz aqui no Brasil.
Os candidatos a juiz, aqui, se submetem a uma prova de conhecimentos da ciência jurídica e nada mais. De posse do poder é que vão revelando seus defeitos ou virtudes. No mais das vezes o que prevalece são os defeitos. E isso pela simples razão de que o poder leva o homem a sentir acima dos outros. Principalmente o poder dos juízes, cujos erros passam impunes.
Falo a propósito da condenação da jovem Bruna Bayer Frasson, do vizinho município de Canoas, que está presa há mais de dois anos em Barcelona, acusada de traficar entorpecentes.
Já falei sobre o caso, neste blog, criticando o longo período de prisão preventiva sem culpa formada. Agora foi prolatada a sentença e Bruna foi condenada a seis anos e um dia de prisão. Para lembrar: Bruna trabalhava como auxiliar de cozinha num dos navios da Costa Crociere (a mesma do Costa Concórdia). Ela havia se formado em nutrição e, sem emprego, mas cheia de sonhos, foi mais uma das muitas jovens seduzidas pelo encanto das viagens internacionais. Quando desembarcou em Barcelona, a polícia encontrou em sua bagagem três quilos de cocaína. No curso do inquérito, um ex-namorado e colega dela, que trabalhava como cozinheiro no navio, confessou que havia “plantado” a droga na bagagem da moça.
Pelo visto, os juízes de Barcelona não acreditaram nem na moça, nem no réu confesso, e preferiram sua própria convicção, baseada não me perguntem em quê. E lhe aplicaram seis anos e um dia de prisão.
Mas, como, perguntarão vocês, não bastavam seis anos? Por que mais um dia?
Por maldade, por perversidade. Esse “um dia” impedirá a deportação de Bruna. Será um castigo a mais, além da condenação: ela terá que ficar à mercê dos raivosos catalães.
Assim são os juízes. E não precisamos ir muito longe para mostrar como são eles. Aqui no Brasil também. Por exemplo, para evitar a prescrição, alonga-se a pena. Como aconteceu no caso do “mensalão”.
Ser juiz é fácil. O difícil é ser responsável.




Nenhum comentário: