MAPA DA HUMANIDADE
João Eichbaum
Letícia
Duarte é a prova mais concreta de que, além do poeta, do pintor e do escritor,
o repórter também nasce. Repórter não se faz em faculdade, nem se credencia só
pelo diploma. Fuçar e escrever, ao mesmo tempo, não é para qualquer um. Sem a
prova de fogo no campo de reportagem, ninguém se transforma em repórter.
A
reportagem intitulada “Refugiados – uma história”, assinada por Letícia Duarte,
do jornal Zero Hora, faz lembrar o grande David Nasser, repórter por excelência da imprensa
brasileira. Nasser vivia e fazia o leitor viver suas reportagens. Letícia
Duarte tem a mesma virtude.
De mochila
nas costas, ela foi cumprir pauta no outro lado do Atlântico. Sozinha, porque,
apertada nas finanças, a ZH não lhe deu fotógrafo. Sua missão foi acompanhar uma
família síria, que, fugindo da guerra e das bestialidades dos energúmenos de
Maomé, saiu em busca de um lugar para recomeçar sua história.
Com a
família, Letícia viveu os horrores de uma fuga: as esperas sem fim por um
destino improvável, as noites em claro, a fome, a sede, a solidariedade, o
desprezo, o choro inconsolável de crianças, o desespero, os fios da esperança,
o frio, o calor, a chuva, o medo, a desilusão, o cansaço e as lágrimas.
Ela
percorreu o mapa da humanidade. E teve fôlego e capacidade suficientes para
mostrar em sua reportagem o que e como são os homens. Venceu uma jornada de
2.590 quilômetros, atravessando, ora de ônibus, ora de trem, ora a pé, sete
países, em oito dias. Nessa jornada, acima das circunstâncias de tempo, modo,
lugar e acasos, se sobressaiu a figura humana.
Personagem da novela da vida, o homem é o
único animal que consegue atrair sentimentos contraditórios: do asco ao
fascínio, passando pelo respeito; da misericórdia ao desprezo, passando pelo
ódio. Esse é o retrato falado que brota da reportagem. Parabéns, Letícia.
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